Uma monja um dia me disse que nada é permanente, que tudo tem um início, um meio e um final. Que a magia da vida é esse ciclo, todo mundo já ouviu dizer. Mas saber disso na teoria é bem diferente de aceitar com o coração. É difícil mudar a mentalidade e enxergar o fim como algo bonito. A gente sofre não só pelas perdas em si, mas pela forma como fomos ensinados a ver a vida. Crescemos acreditando no "para sempre", nas promessas eternas, na ideia de que o que é bom vai durar. E é aí que nasce o medo do fim. Porque a ideologia do “sempre” nos ilude, nos coloca expectativas que a própria realidade não pode cumprir. E quando o fim chega (e ele sempre chega) nos sentimos traídos, como se algo estivesse errado. Mas talvez seja só a vida, seguindo seu curso natural.
As palavras “sempre” e “nunca” carregam um peso que, muitas vezes, não conseguimos sustentar. Dizemos que uma amizade será eterna, que um amor durará para sempre, que nunca vamos esquecer algo ou alguém. E talvez não esqueçamos mesmo. Mas a vida não se sustenta na rigidez. Ela exige movimento. E movimento significa mudança. Tudo aquilo que começa, um dia também termina. Não importa o quanto a gente lute contra essa verdade. Ela é dura, sim, mas também é libertadora. Porque se entendermos que o fim faz parte, talvez comecemos a valorizar mais o que está acontecendo agora.
É aqui que entra a resiliência. Muita gente confunde resiliência com frieza, como se fosse sinônimo de não se abalar com nada. Mas não é isso. Ser resiliente é sentir tudo (a dor, a perda, a saudade) e mesmo assim continuar. É permitir-se viver o luto do fim e, aos poucos, encontrar um novo caminho. É aprender com as quedas, reorganizar os planos, reconstruir aos poucos aquilo que foi abalado. A resiliência é uma forma de sabedoria emocional: não impede o sofrimento, mas ensina que ele não é o fim do mundo. Só o fim de um capítulo.
Viver com mais leveza não significa viver sem dor. Significa escolher não se apegar ao que não volta, e sim, cuidar com carinho do que ainda está por perto. É aceitar que nem tudo vai durar, mas que tudo pode ser vivido intensamente enquanto durar. É um exercício diário de presença, de gratidão, de coragem. É olhar para o outro com mais generosidade e para a própria vida com mais simplicidade. O fim de uma história pode ser também o início de outra. O fim de um ciclo pode ser a chance de se redescobrir.
A vida é breve. As pessoas que amamos não estarão aqui para sempre. Nós também não. Por isso, precisamos falar mais “eu te amo”, ouvir mais com o coração, abraçar mais apertado, aproveitar os cafés tranquilos de domingo e os silêncios cheios de significado. Não devemos esperar o fim para valorizar o meio. Nem o adeus para entender a importância da presença.
Se pudermos mudar um pouco a nossa visão sobre o fim, talvez passemos a sofrer menos e viver mais. Porque no fim das contas — e todos temos o nosso — o que importa não é quanto durou, mas o quanto foi vivido de verdade.