A função da polícia é garantir segurança, proteger a vida e preservar a ordem pública. Mas quando o resultado de uma operação é uma chacina, algo está profundamente errado. A segurança pública não pode ser medida por corpos estendidos no chão. O papel da polícia não é exterminar, mas investigar, prender, e garantir que a justiça seja feita dentro da lei. Quando a violência parte de quem deveria proteger, o Estado deixa de ser uma instituição de segurança e se torna uma máquina de opressão.
O contraste entre o tratamento dado a diferentes áreas da cidade é gritante. Em condomínios de luxo, mesmo quando há confronto armado, dificilmente a polícia reage com a mesma brutalidade. Ninguém vê operações com dezenas de mortos nos bairros ricos. O que muda não é o tipo de crime, o tráfico de drogas e os esquemas ilegais também existem nesses locais, mas o endereço e a cor da pele dos envolvidos. As favelas, historicamente marcadas pela pobreza e pela presença majoritária de pessoas negras, continuam sendo vistas como territórios inimigos.
Essa visão distorcida tem raízes profundas. O Brasil é um país que nunca enfrentou de forma séria o racismo estrutural e a desigualdade social. A polícia, muitas vezes, é treinada para enxergar o morador de favela como um potencial inimigo, e não como um cidadão com direitos. Enquanto isso, a população dessas regiões vive sob a constante ameaça de balas perdidas, invasões de domicílio e ausência de políticas públicas que garantam educação, emprego e dignidade.
Mas existem caminhos possíveis. É urgente reformar a formação policial, priorizando os direitos humanos, o uso responsável da força e o diálogo com as comunidades. Além disso, é necessário investir em inteligência, tecnologia e investigação, em vez de depender exclusivamente da violência armada. Programas sociais, escolas de qualidade e oportunidades de trabalho são muito mais eficazes para reduzir a criminalidade do que qualquer fuzil. Segurança pública não se constrói com medo, mas com justiça e inclusão.
Enquanto o Estado continuar tratando as favelas como campos de guerra, o sangue inocente continuará sendo derramado. É preciso lembrar que cada vida perdida tem nome, história e família. A verdadeira segurança nasce quando todos (independentemente de onde moram ou da cor que têm) podem viver sem medo da polícia. O que o Brasil precisa não é de mais balas, mas de mais humanidade.
