A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que começou em Belém, no Pará, não é apenas mais uma reunião climática. É um marco histórico e, na minha opinião, um divisor de águas. Pela primeira vez, a cúpula mais importante sobre o clima no planeta está sendo realizada no coração do bioma mais vital do mundo: a Amazônia. Essa escolha coloca o Brasil e, principalmente, a Amazônia sob um microscópio global, transformando o país de um ator coadjuvante em um protagonista inevitável das discussões.
O grande elefante na sala e o tema central de Belém é o financiamento climático. A meta de 100 bilhões de dólares anuais prometida pelos países ricos aos países em desenvolvimento para ajudá-los na transição energética e na adaptação climática precisa ser revista e, principalmente, cumprida. Mas a discussão vai além do dinheiro: como esse capital será usado? O Brasil, junto com outras nações, está pressionando por uma nova e mais ambiciosa meta de financiamento para depois de 2025. Além disso, as negociações estão focadas na adaptação, ou seja, como os países mais vulneráveis, que sofrem com eventos extremos como o recente tornado no Paraná, podem se proteger e se preparar para um futuro com o clima mais hostil.
O Brasil chega à COP30 com a promessa de mostrar que a preservação ambiental traz benefícios econômicos concretos. Sediar o evento na Amazônia é uma chance única de destacar a bioeconomia como um modelo de desenvolvimento sustentável. O Governo Federal, por exemplo, já anunciou um fundo de US$ 1 bilhão para florestas tropicais, com a intenção de financiar a recomposição de áreas desmatadas. Para o mundo, é a prova de que a proteção das florestas não é apenas uma questão moral, mas um motor de crescimento.
Belém, como capital da Amazônia, não é um local simbólico por acaso. A floresta é um imenso sumidouro de carbono, essencial para manter o planeta abaixo do limite de aquecimento de 1,5°C. Com os compromissos brasileiros de zerar o desmatamento até 2030, o país assume um papel crucial. O mundo está de olho não só nas promessas, mas nos resultados concretos. Além disso, a COP30 expõe a importância de ouvir as comunidades locais e povos indígenas – aqueles que vivem a realidade da floresta e têm o conhecimento ancestral para sua proteção. A minha percepção é que ignorar esses atores é ignorar a própria solução climática.
Mais do que mediar acordos internacionais, a COP30 está deixando um legado de infraestrutura e capacitação em Belém. A cidade está passando por transformações logísticas e de segurança para receber as delegações de quase 200 países. O verdadeiro desafio do Brasil, no entanto, é o que virá depois. Precisamos garantir que o compromisso de sermos uma potência ambiental e econômica verde não seja apenas um discurso de evento. O nosso sucesso em proteger a Amazônia e implementar a transição energética será o nosso cartão de visitas para o futuro e a maior prova de que a cúpula em Belém valeu a pena. O mundo nos olha esperando atitudes.
