Anos 60




 É engraçado que as coisas mudam o tempo todo. Menos de um ano após decidir morar com meus pais para sempre, minhas irmãs começaram a se casar e a sair de casa, as mais novas estavam todas seguindo as regras, mas a Teresa, minha irmã mais velha, casou contra a própria vontade, sendo assim, decidiu fazer da vida daquele pobre rapaz um inferno.

 Meu pai tinha alguns amigos, e foi conhecendo o filho de um deles que eu me senti tranquila para casar. Era um rapaz engraçado e bem vestido, tinha posses e isso era tudo o que importava pro meu pai, suas filhas não poderiam se casar com um homem qualquer, precisava ser de família.

 Eu fui questionada sobre se casar, e mesmo sem poder ser direta com relação ao assunto, disse que podia ser do jeito que meu pai gostasse. A coisa mais importante naquele tempo era que não ficássemos falada.

 O nome daquele rapaz era Jonas e ele foi convidado para jantar em casa, naquela noite eu pude ficar próxima dele pela primeira vez, meu pai estava entre a gente. Minha mãe conseguiu o vestido de casamento em poucas semanas, também aprendi a cozinhar melhor, meu pai acreditava que era essencial uma mulher que soubesse cozinhar. Qual é o problema dos homens?

 Sempre imaginei que as coisas estavam um pouco erradas, mas de forma alguma eu questionaria meu pai.

 O sítio estava silencioso no dia do meu casamento, era como se os animais estivessem protestando, certamente não queriam que eu fosse embora. Não lembro bem o que eu pensei naquele dia, acho que eu não pensei em nada, só cumpri com tudo o que diziam pra eu fazer. A Tereza sempre falou de amor, mas amor eu só tinha pelos meus pais, eu acreditava que aprenderia a amar o Jonas mais tarde.


 Após o casamento o Jonas ficou meio chateado com meu pai, ele me pegou pelo braço e disse que meu marido deveria me buscar dentro de 3 dias e simplesmente voltamos para o sítio. Minha mãe disse que era para que o Jonas não esquecesse que eu tinha uma família e não era uma qualquer... Eu nunca fora uma qualquer!


 Depois de casar eu descobri que o Jonas deveria ter sido apenas o rapaz engraçado, ter um homem querendo mandar em mim, e este homem não sendo meu pai foi terrível, engravidar também foi horrível e assim foram aqueles 9 meses, até que meu primeiro filho nasceu, e eu fiquei apaixonada. Era um menino, e eu amava aquele garoto mais do que tudo. Estava tudo muito lindo que o Jonas achou que minha vocação era ser mãe... Os anos 60 estavam acabando e lá estava eu, grávida pela terceira vez.