Anos 70



 Minha terceira gravidez foi maravilhosa, eu amava meus filhos, o Jonas é quem parecia ser um problema. Mudamos de cidade pois ele conseguiu trabalho em uma fábrica nova que estava abrindo por lá, era tudo novo, e nessa leva ele acabou fazendo amizade com alguns cachaceiros.

 Quando o trabalho terminava, no lugar de correr pra gente, o Jonas gostava de ir para aquela venda perto de casa e lá ficava com os amigos até tarde da noite. Claro que ele não gastava o salário bebendo pois assim que ele recebia, eu ficava com todo dinheiro dele para que não gastasse com bobagens.


 Para algumas mulheres isto pode ser suficiente, mas se o marido não pode dar amor e carinho para seus filhos, então não deveria ter procurado ter uma família. Acabei me tornando uma mulher muito brava, eu não queria que o Jonas me olhasse, e sim que pudesse estar mais presente na vida de seus filhos. Queria que as coisas mudassem, mas continuava tudo igual, não demorou pra que eu estivesse grávida pela quarta vez. O que é que este homem quer da vida?


 Muita das vezes, me imaginei em como as coisas poderiam ter sido diferentes se eu tivesse continuado no sítio com meus pais. Durante minha gravidez recebi uma das notícias mais terríveis que pudera ter; meu pai havia falecido. Era um homem fechado, mas que me ensinou tantas coisas, eu o amava muito, mas não podia ser fraca já que eu tinha três crianças pequenas e estava grávida pela quarta vez.


 Queria que o Jonas tivesse sido um pouco como meu pai, que servisse de exemplo para minhas crianças, mas essa mania de ficar até tarde na rua iria refletir em como elas seriam no futuro. Iriam olhar para o passado e se lembrar do quão ausente o pai delas tinha se empenhado para ser. Que precisavam dele e ele não estaria lá. Será que isso era bom?


 Ele não era um marido ideal, muito menos um bom pai, mas eu não falaria isso para meus filhos de maneira alguma. Se eu consigo cuidar de 4 crianças, então consigo me esforçar um pouco mais para que não percebam o quão ruim as coisas estão. Estávamos na metade dos anos 70 quando pensei pela primeira vez em um desquite, mas até então eu não sabia que estava grávida de novo, e que antes da década acabar, ficaria grávida mais uma vez...