Era mais uma tarde quente no colégio, e a aula de química parecia interminável para Guilherme. Mas o motivo não era o conteúdo complicado. O problema tinha nome: professora Pilar. Para ele, cada palavra que ela dizia soava como poesia, e não ciência.
— Hoje vamos falar sobre combustão — disse Pilar, escrevendo no quadro com sua caligrafia impecável. Guilherme suspirou profundamente, afundando na cadeira. Combustão? Ela já queimou meu coração faz tempo..., pensou, sorrindo como um bobo.
Ao lado, Rafael, o melhor amigo de Guilherme, percebeu o sorriso suspeito e cutucou o colega.
— Cara, você tá bem? Tá com cara de apaixonado ou de quem inalou gás carbônico.
Guilherme não perdeu a oportunidade.
— Se gás carbônico fosse amor, eu já teria morrido asfixiado — cochichou de volta, com uma piscadela.
Enquanto isso, Pilar continuava sua explicação, completamente alheia ao turbilhão romântico na cabeça de Guilherme.
— A combustão é uma reação química entre um combustível e o oxigênio, liberando calor. Vocês precisam entender que é uma reação rápida, como um fósforo acendendo...
Guilherme inclinou-se para Rafael e murmurou:
— Igual meu coração acendendo toda vez que ela fala...
Rafael engasgou com a risada, tentando abafar o som, mas não foi rápido o suficiente.
Pilar parou a explicação e virou-se para os dois com as sobrancelhas erguidas.
— Guilherme, Rafael... alguma coisa engraçada que vocês queiram compartilhar com a turma? — perguntou, com aquele tom que misturava leveza e advertência.
Sem pensar muito, Guilherme respondeu:
— Ah, professora... eu só estava pensando que essa reação de combustão aí é igual ao que eu sinto toda vez que a senhora entra na sala.
O silêncio tomou conta da sala. Os colegas se entreolharam, segurando o riso, enquanto Pilar ficou por um instante sem reação, piscando antes de soltar um leve sorriso.
— Certo, Guilherme. Vamos tentar focar na química por enquanto, pode ser?
Ele apenas sorriu, tentando parecer despreocupado, enquanto seu rosto ficava vermelho. Pilar, ainda sorrindo, voltou à explicação, mas agora havia um brilho de diversão em seus olhos. Pelo menos eu fiz ela sorrir, pensou ele, satisfeito.
— Agora, continuando... a combustão libera gás carbônico e vapor de água, que podem se combinar com outros elementos... — Pilar prosseguiu, mas Guilherme já estava longe, imaginando fórmulas de amor em vez de equações químicas.
Rafael, ainda se recuperando da risada, se inclinou e sussurrou:
— Cara, você tá fora de controle.
Guilherme deu de ombros.
— Deve ser porque a professora Pilar já misturou os elementos do meu coração com o dela. — Ele fez uma pausa dramática. — É uma reação explosiva.
Rafael não conseguiu segurar o riso e soltou uma gargalhada alta, atraindo um olhar sério de Pilar dessa vez. Guilherme ficou quieto, mas seu coração continuava em combustão.