CAPÍTULO 1: Como era viver nos anos 60



 Viver nos anos 60 era, antes de tudo, presenciar o nascimento de um novo Brasil. Era um país que começava a experimentar as primeiras transformações tecnológicas, culturais e sociais de maneira mais acelerada, mesmo com o peso de um regime político que logo viria a endurecer. A televisão, ainda em preto e branco, surgia como novidade nos lares mais abastados e, aos poucos, se tornava um símbolo de status. Famílias se reuniam na sala para assistir ao Repórter Esso, com sua voz solene anunciando as notícias, ou se divertir com as situações inusitadas da Família Trapo, que fazia rir sem abandonar o tom moral da época.

Na moda, a juventude brasileira se dividia entre a elegância dos trajes formais e a ousadia de referências estrangeiras. Os meninos tentavam copiar o estilo dos Beatles, com ternos ajustados e cabelo em formato de cuia. Já as meninas apostavam em vestidos rodados, cinturas marcadas, laços nos cabelos e sapatilhas. Tudo muito alinhado e cuidadosamente escolhido. Era o tempo da Jovem Guarda, movimento musical liderado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, que arrebatava corações e dominava as rádios. As canções românticas embalaram namoros nas praças e coretos das cidades, onde os adolescentes passeavam de mãos dadas, sempre sob olhares atentos dos adultos.

A alimentação refletia a tradição e o ritmo familiar. As refeições eram preparadas em casa, geralmente por mulheres donas de casa que organizavam o cardápio da semana com esmero. Arroz, feijão, carne de panela, legumes cozidos e bolos simples de fubá ou laranja eram parte do cotidiano alimentar. Comer fora era luxo, reservado a ocasiões especiais. Refrigerante era artigo raro e o leite era entregue bem cedo, de porta em porta, em garrafas de vidro retornáveis.

A rotina dos adultos era marcada por horários rígidos, empregos formais e o início de um novo perfil urbano. As cidades cresciam, e com elas, o desejo de modernidade. Ao mesmo tempo, o conservadorismo imperava: papéis de gênero eram bem definidos e esperava-se que o homem fosse o provedor, enquanto a mulher cuidava da casa e dos filhos. Mesmo assim, começavam a despontar os primeiros sinais de uma mudança de pensamento que floresceria nas décadas seguintes.

No cinema, o movimento da Nouvelle Vague francesa inspirava cineastas brasileiros a experimentarem novas linguagens visuais e narrativas. O Cinema Novo nascia com nomes como Glauber Rocha, trazendo um olhar mais crítico e popular às telas. Era um reflexo de um país que tentava se entender, mesmo diante das censuras que viriam. Assistir a um filme era programa de fim de semana, muitas vezes em cinemas de rua que, iluminados por letreiros de neon, viravam ponto de encontro para toda a cidade.

A década de 60 foi, portanto, um tempo de transição. Um tempo em que a inocência da vida familiar convivia com as inquietações da juventude e os primeiros ruídos do que viria a ser uma revolução cultural. Era o começo de uma era que deixaria marcas profundas na música, nos hábitos e na memória de quem viveu — e de quem ainda hoje se encanta ao ouvir um vinil tocar ou ao rever uma cena em preto e branco na velha televisão da sala.