Gabriel não sabia ao certo quando tudo começara a desmoronar. Talvez tivesse sido com a morte de seu pai, Elias, um homem de fé e compaixão, que sempre acreditou no melhor das pessoas. Desde então, parecia que a vida havia perdido suas cores. O trabalho como entregador em uma pequena mercearia foi o próximo a desaparecer, quando o dono anunciou que não podia mais manter os funcionários. Agora, ele passava os dias tentando evitar o peso do vazio que carregava.
Naquela tarde, enquanto caminhava sem rumo pelas ruas do bairro, ouviu o som de um louvor vindo de uma pequena igreja de portas abertas. A melodia parecia convidá-lo a entrar, e ele o fez, hesitante.
Lá dentro, o ambiente era simples, mas acolhedor. Havia poucos bancos, e uma luz suave vinha das janelas altas. O pastor, um homem de cabelos grisalhos e semblante sereno, chamado Josué, estava no púlpito.
— Amados, hoje quero falar sobre o amor ao próximo. Jesus nos ensinou que o maior mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas, mas o segundo é tão importante quanto: amar o nosso próximo como a nós mesmos — dizia Josué, com a voz firme e calma. — E amar ao próximo não é só sentir carinho. É agir! É estender a mão, ouvir, cuidar.
Gabriel sentou-se no último banco, tentando não chamar atenção. Mas as palavras do pastor começaram a ressoar fundo em seu coração, como se fossem direcionadas a ele.
— Às vezes, achamos que não temos nada a oferecer — continuou Josué. — Que somos pequenos, que nossos problemas são grandes demais. Mas lembrem-se: Jesus multiplicou pães e peixes. Ele transformou o pouco em muito. Ele pode fazer o mesmo com a sua vida, se você se colocar à disposição para amar e servir.
Ao final do sermão, enquanto as pessoas cantavam, Gabriel sentiu algo diferente. Era como se uma chama tímida estivesse acendendo dentro dele. Após o culto, foi abordado por Khauan, um jovem da sua idade que o reconheceu.
— Gabriel? Cara, não te vejo há tempos! Tudo bem com você? — perguntou Khauan, com um sorriso genuíno.
Gabriel hesitou antes de responder:
— Ah... Não muito, pra ser honesto. Perdi o emprego, tô meio perdido... Não sei nem por que entrei aqui hoje.
— Talvez você tenha entrado porque precisava ouvir isso — disse Khauan, colocando uma mão em seu ombro. — Olha, a gente não se vê desde o colégio, mas se precisar de alguém pra conversar ou pra te ajudar, tô por aqui.
— Obrigado, Khauan. Acho que é disso que eu preciso.
Naquele instante, Gabriel começou a perceber que não estava sozinho e que talvez houvesse um propósito maior em meio à sua dor. Ele saiu da igreja com o sermão ecoando em sua mente: "Amar é agir." A chama que se acendera nele ainda era pequena, mas o suficiente para iluminar um novo caminho.