Capítulo 1 - El Vacío de las Calaveras


CAPÍTULO 1


 Oaxaca se vestia de laranja e roxo. Nas ruas, o perfume intenso do cempasúchil misturava-se ao aroma açucarado do pan de muerto, anunciando a chegada do Dia de Muertos. Mas na pequena oficina nos fundos da casa, o ar era pesado e estéril.

Pablo, um jovem de 25 anos, estava curvado sobre a bancada. A madeira macia de copal virava pó sob suas ferramentas. Seus alebrijes eram perfeitamente entalhados (um jaguar, um coelho alado, uma serpente emplumada), mas lhes faltava o fogo, a explosão de cores. Eram estátuas cinzentas, sem alma.

Na sala principal, sua mãe, Rosa (50 anos, uma mulher de braços fortes e coração cansado), lutava contra a teimosia do filho. Ela arrumava a ofrenda (o altar) com a paciência que a vida lhe havia ensinado.

— ¡Ay, mi Pablo! — chamou Rosa, parando na porta da oficina. A luz fraca do entardecer mal iluminava o cômodo. — ¡Ya levántate, mijo! Faltam dois dias, y no has puesto ni una veladora. Tu bisabuela Elena no querría verte así, ¿sabes? Ella era pura alegría.

Pablo mal ergueu os olhos do queixo do dragão que entalhava. Ele sentia que a própria tentativa de montar o altar era um fardo.

— No, jefa — respondeu ele, com a voz rouca. — No siento nada. No me sale la alegría. No siento que ella vaya a venir, de verdad. Mis alebrijes ya no tienen magia, y la casa está vacía.

Rosa suspirou, esfregando a têmpora.

— ¡No digas eso, mi corazón! Vente, ayúdame con las flores. ¡Mira qué bonito está el cempasúchil! Está tan fresco.

Ele negou com a cabeça. A recusa era clara: ele passaria o feriado ali, isolado. Rosa se afastou, sentindo a mesma pontada de dor que sentia há dois anos.

Longe da melancolia daquela casa, no agitado Mercado Central, Isabel (22 anos, dona de um sorriso fácil e de uma energia incansável) trabalhava em seu posto de venda de flores. Sua barraca era um farol de laranja.

— ¡Llévele, marchanta! ¡Las flores más frescas para sus difuntos! — anunciava Isabel, equilibrando-se entre entregar os buquês e contar o dinheiro.

Sua motivação era o motor do seu vocho (Fusca), parado e enferrujando. Era do seu avô, e o sonho de Isabel era consertá-lo para a procissão.

No final do dia, depois de fechar o balanço, seu rosto normalmente radiante se contraiu em frustração. Ela guardou os trocados no pote de cerâmica.

— ¡Ay, mi Tío! — sussurrou ela, olhando para o céu que escurecia. — Todavía no llego. Me hace falta tanto... ¡Ya mérito!

O dinheiro arrecadado mal cobria metade do valor que o mecânico havia pedido. Isabel mordeu o lábio inferior, mas recusou-se a se entristecer por muito tempo. Tinha uma promessa a cumprir.