Capítulo 1: Infância e juventude

 Jorge Mario Bergoglio veio ao mundo em 17 de dezembro de 1936, no coração de Buenos Aires, Argentina, em uma casa modesta no bairro de Flores. Filho de Mario José Bergoglio, um contador, e Regina Maria Sívori, uma dona de casa, ambos imigrantes italianos, Jorge cresceu em um lar onde o trabalho duro e a fé católica eram pilares. Ele era o primogênito de cinco filhos, e a família, apesar de não ser rica, vivia unida, compartilhando refeições animadas repletas de histórias sobre a Itália e lições sobre generosidade. A mãe, Regina, ensinava os filhos a rezar e a valorizar a humildade, enquanto o pai, Mario, contava sobre sua juventude em Piemonte, reforçando a importância da honestidade e do esforço.

Desde pequeno, Jorge era uma criança cheia de energia e curiosidade. Ele adorava brincar nas ruas de paralelepípedos de Flores, correndo atrás de uma bola com os amigos ou explorando o bairro. Aos domingos, a família ia à missa na paróquia local, e Jorge, ainda menino, sentia uma conexão especial com as histórias da Bíblia e os rituais da igreja. Ele servia como coroinha, ajudando o padre nas celebrações, e já demonstrava um jeito carinhoso e atencioso com as pessoas. Sua avó Rosa, uma figura muito importante em sua vida, contava-lhe histórias de santos e reforçava a espiritualidade que começava a florescer no coração do neto.
Na escola, Jorge se destacava como um aluno aplicado e versátil. Ele estudava com afinco, fascinado por ciências, e sua mãe, Regina, sonhava que ele seguisse uma carreira como médico ou engenheiro. Aos 17 anos, porém, um momento marcante mudou o rumo de sua vida. Em 21 de setembro de 1953, dia de São Mateus, Jorge foi se confessar na igreja de São José de Flores. Durante a confissão, sentiu uma paz profunda e um chamado claro para dedicar sua vida a Deus. Ele descreveria mais tarde esse momento como um encontro que o marcou para sempre, como se Deus tivesse tocado seu coração. Apesar disso, ele continuou seus estudos por um tempo, concluindo o curso técnico em química em uma escola industrial, o que mostrava sua disciplina e capacidade de equilibrar sonhos espirituais com responsabilidades práticas.
Fora da escola, Jorge era um jovem como tantos outros de sua geração. Ele gostava de ouvir tango, dançar com os amigos e acompanhar os jogos do San Lorenzo, seu time do coração, pelo rádio ou no estádio quando podia. Também trabalhava para ajudar a família, primeiro como faxineiro e depois em um laboratório químico, experiências que o ensinaram o valor do trabalho e a realidade das pessoas simples. Sua personalidade alegre e seu jeito de ouvir com atenção conquistavam todos, desde os colegas de bairro até os professores. Ele tinha um dom natural para criar laços, algo que se tornaria uma característica marcante em sua vida.
Aos 21 anos, em 11 de março de 1958, Jorge tomou a decisão que definiria seu futuro: ingressou no noviciado da Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas, conhecida por sua dedicação à educação, à espiritualidade e ao serviço aos mais pobres. A escolha não foi simples. Ele sabia que significava deixar para trás a possibilidade de uma vida comum, com família e carreira, mas sentia que era o que Deus queria para ele. No seminário, começou uma formação rigorosa, estudando filosofia, teologia e línguas, além de aprender a viver com simplicidade e disciplina. Mesmo nesse ambiente, ele mantinha sua humildade e senso de humor, fazendo amigos e mostrando um carinho especial pelos mais necessitados, como os doentes que visitava em hospitais.
Esses anos de infância e juventude foram fundamentais para moldar Jorge Bergoglio. A família unida, a fé aprendida desde cedo, as brincadeiras no bairro, o esforço nos estudos e o chamado espiritual formaram um jovem que combinava determinação com ternura. Ele carregava consigo os valores de seus pais, a inspiração de sua avó e a alegria de quem sabia encontrar beleza nas coisas simples. Era o começo de uma jornada que, embora Jorge ainda não soubesse, o levaria a tocar o mundo com sua mensagem de amor e proximidade.