Capítulo 1 - O Convite Inesperado

CAPÍTULO 1

 O calor úmido de Curitiba, mesmo no final de tarde, era diferente daquele que Luciano conhecia em sua pequena cidade do interior. Ele estava sentado no degrau da pensão modesta onde estava hospedado, no bairro Rebouças, observando o ir e vir frenético de pessoas que pareciam ter pressa para um lugar que ele jamais alcançaria. A capital era um turbilhão cinzento de prédios altos e carros velozes, um contraste brutal com as paisagens de terra vermelha e céu aberto de onde viera.

Seu celular, um modelo antigo e trincado, vibrou em sua mão. Não era uma ligação, nem um SMS. Era uma notificação do Tinder. Ele havia dado match com um perfil sem fotos, mas com uma descrição intrigante: "Oportunidade. Centro. Hoje."

A mensagem de texto que se seguiu era direta:

— Luciano? Vi que está em Curitiba.

Ele hesitou. A desconfiança era um instinto que ele cultivara a vida inteira.

— Quem é? — digitou, com os dedos suados.

A resposta foi imediata, misteriosa e ligeiramente debochada:

— Digamos que eu sou alguém que te achou interessante o suficiente para te tirar dessa pensão. Você foi convidado para a Festa da Minha Vida. Cobertura no centro. É uma experiência.

A ideia era absurda. Ele mal tinha dinheiro para comer um cachorro-quente decente, e alguém, do nada, o estava chamando para uma festa de luxo. Ele estava prestes a bloquear o perfil, quando uma nova mensagem surgiu:

— Não precisa se preocupar com transporte. Confirme em dez minutos e um Uber Black irá buscá-lo no seu endereço atual. O local da festa está no anexo. Não se atrase.

O anexo mostrava a foto da fachada de um dos edifícios mais altos e imponentes que ele vira no centro, um arranha-céu de vidro fumê que parecia tocar as nuvens. A curiosidade, misturada a um impulso súbito de desafio contra sua própria rotina, o venceu.

— Eu vou — respondeu, antes que pudesse se arrepender.

Exatamente dez minutos depois, um carro preto reluzente, silencioso e assustadoramente limpo, parou na frente da pensão. O motorista desceu e abriu a porta traseira para ele, um gesto que fez Luciano se sentir como um impostor de filme.

— Boa noite, senhor Luciano. O destino está programado.

Luciano engoliu em seco, sentindo o cheiro de couro novo do estofamento.

— Boa noite.

A viagem foi rápida e silenciosa. Observando a cidade se transformar em uma passarela de luzes e neon, ele tentou arrumar a camisa simples. O motorista parou em frente ao prédio de vidro.

— Chegamos, senhor. Tenha uma boa noite.

Ele saiu do carro, sentindo o peso do olhar dos seguranças no portão. Com as pernas tremendo, caminhou até a entrada. Um porteiro alto e sério perguntou seu nome.

— Luciano.

O porteiro checou um tablet, e um sorriso profissional, mas estranho, surgiu em seu rosto.

— Seja bem-vindo, senhor. O elevador panorâmico à direita. Cobertura, por favor.

Luciano entrou no elevador de vidro, sentindo a vertigem enquanto subia. O centro de Curitiba, com suas luzes e seu trânsito, encolhia lá embaixo. O mundo parecia se abrir à sua frente, um palco brilhante e proibido.

A porta de metal polido se abriu no último andar. A música pulsava em volume alto, um ritmo eletrônico e hipnótico. Um corredor escuro, iluminado apenas por fitas de LED azuis, o levava ao que só podia ser a festa.

Ele deu o primeiro passo na cobertura, e o som, as luzes, o cheiro de perfume caro e a risada cristalina de vozes desconhecidas o atingiram como uma onda. Era um mundo de vidro, aço e corpos esculturais.

— Ora, ora... parece que a atração principal finalmente chegou.

Uma voz grave, quente e surpreendentemente próxima. Luciano se virou e viu um homem alto, de terno de linho claro e um sorriso que parecia valer milhões, parado ao seu lado. Seus olhos tinham um brilho divertido.

— Seja muito bem-vindo, Luciano. Eu sou Arthur. E esta é a Festa da Minha Vida.

Luciano só conseguiu respirar. O interior, naquele momento, parecia mais distante do que outro planeta.

— Obrigado... — ele balbuciou, completamente em choque.

O olhar de Arthur varreu o rosto de Luciano, um misto de avaliação e satisfação.

— Venha. Tenho alguém que mal pode esperar para te conhecer.

E assim, Luciano foi puxado pelo braço para dentro do luxo e do desconhecido.