Seu celular, um modelo antigo e trincado, vibrou em sua mão. Não era uma ligação, nem um SMS. Era uma notificação do Tinder. Ele havia dado match com um perfil sem fotos, mas com uma descrição intrigante: "Oportunidade. Centro. Hoje."
A mensagem de texto que se seguiu era direta:
— Luciano? Vi que está em Curitiba.
Ele hesitou. A desconfiança era um instinto que ele cultivara a vida inteira.
— Quem é? — digitou, com os dedos suados.
A resposta foi imediata, misteriosa e ligeiramente debochada:
— Digamos que eu sou alguém que te achou interessante o suficiente para te tirar dessa pensão. Você foi convidado para a Festa da Minha Vida. Cobertura no centro. É uma experiência.
A ideia era absurda. Ele mal tinha dinheiro para comer um cachorro-quente decente, e alguém, do nada, o estava chamando para uma festa de luxo. Ele estava prestes a bloquear o perfil, quando uma nova mensagem surgiu:
— Não precisa se preocupar com transporte. Confirme em dez minutos e um Uber Black irá buscá-lo no seu endereço atual. O local da festa está no anexo. Não se atrase.
O anexo mostrava a foto da fachada de um dos edifícios mais altos e imponentes que ele vira no centro, um arranha-céu de vidro fumê que parecia tocar as nuvens. A curiosidade, misturada a um impulso súbito de desafio contra sua própria rotina, o venceu.
— Eu vou — respondeu, antes que pudesse se arrepender.
Exatamente dez minutos depois, um carro preto reluzente, silencioso e assustadoramente limpo, parou na frente da pensão. O motorista desceu e abriu a porta traseira para ele, um gesto que fez Luciano se sentir como um impostor de filme.
— Boa noite, senhor Luciano. O destino está programado.
Luciano engoliu em seco, sentindo o cheiro de couro novo do estofamento.
— Boa noite.
A viagem foi rápida e silenciosa. Observando a cidade se transformar em uma passarela de luzes e neon, ele tentou arrumar a camisa simples. O motorista parou em frente ao prédio de vidro.
— Chegamos, senhor. Tenha uma boa noite.
Ele saiu do carro, sentindo o peso do olhar dos seguranças no portão. Com as pernas tremendo, caminhou até a entrada. Um porteiro alto e sério perguntou seu nome.
— Luciano.
O porteiro checou um tablet, e um sorriso profissional, mas estranho, surgiu em seu rosto.
— Seja bem-vindo, senhor. O elevador panorâmico à direita. Cobertura, por favor.
Luciano entrou no elevador de vidro, sentindo a vertigem enquanto subia. O centro de Curitiba, com suas luzes e seu trânsito, encolhia lá embaixo. O mundo parecia se abrir à sua frente, um palco brilhante e proibido.
A porta de metal polido se abriu no último andar. A música pulsava em volume alto, um ritmo eletrônico e hipnótico. Um corredor escuro, iluminado apenas por fitas de LED azuis, o levava ao que só podia ser a festa.
Ele deu o primeiro passo na cobertura, e o som, as luzes, o cheiro de perfume caro e a risada cristalina de vozes desconhecidas o atingiram como uma onda. Era um mundo de vidro, aço e corpos esculturais.
— Ora, ora... parece que a atração principal finalmente chegou.
Uma voz grave, quente e surpreendentemente próxima. Luciano se virou e viu um homem alto, de terno de linho claro e um sorriso que parecia valer milhões, parado ao seu lado. Seus olhos tinham um brilho divertido.
— Seja muito bem-vindo, Luciano. Eu sou Arthur. E esta é a Festa da Minha Vida.
Luciano só conseguiu respirar. O interior, naquele momento, parecia mais distante do que outro planeta.
— Obrigado... — ele balbuciou, completamente em choque.
O olhar de Arthur varreu o rosto de Luciano, um misto de avaliação e satisfação.
— Venha. Tenho alguém que mal pode esperar para te conhecer.
E assim, Luciano foi puxado pelo braço para dentro do luxo e do desconhecido.
