Capítulo 1 - O encontro de três mundos


CAPÍTULO 1


 O elo que unia Ana Catarina, Ana Beatriz e Ana Júlia era, para muitos, um mistério. Eram três mundos que se chocavam na mesma sala de aula, mas se complementavam em uma amizade inseparável. Ana Catarina, filha do pastor da Assembleia de Deus, transitava entre o recato da igreja e a ousadia de uma vida que ela só se permitia viver longe dos olhos dos pais. Na escola, era apenas "Catarina", a garota que ouvia rock no fone de ouvido, mas que, na porta de casa, se transformava na "Ana", a menina que cantava hinos no coral.

Ana Beatriz, por sua vez, vivia em um mundo de contrastes ainda mais intensos. Moradora de uma favela, ela era a esperança da família, a aluna dedicada que passava noites em claro estudando para o vestibular, sonhando com uma vida diferente. No entanto, sua rotina de responsabilidades era frequentemente interrompida pela batida do funk que ecoava das festas da comunidade, festas essas onde a bebida e a liberdade se misturavam em uma atração perigosa.

E, finalmente, havia Ana Júlia. Com sua mansão e o sobrenome de peso, Carneiro Monteiro, ela era a princesa que todos admiravam, a filha do vice-prefeito João. Sua vida, no entanto, era uma jaula de ouro. Cada passo era monitorado, cada atitude, moldada para manter a imagem perfeita que a família tanto prezava. Na presença das amigas, Ana Júlia encontrava a liberdade que sua vida de fachada não oferecia.

Era sábado, e a ansiedade das três era palpável. Finalmente, uma festa na casa de Léo, o garoto mais popular da escola. Para Ana Catarina, era a oportunidade perfeita de escapar de sua vida dupla, de ser apenas Catarina. Para Ana Beatriz, uma pausa bem-vinda na rotina exaustiva de estudos. Mas para Ana Júlia, era a chance de se sentir genuinamente livre.

A música alta e as luzes estroboscópicas criavam um ambiente de euforia. Ana Júlia, que sempre se controlava, decide que naquela noite seria diferente. Ela se aproxima da mesa de bebidas.

— Júlia, cuidado com a dose, hein? — avisa Ana Beatriz, percebendo a empolgação da amiga.

— Relaxa, Bê, é só uma noite! Meus pais não estão aqui para me julgar! — Ana Júlia responde, rindo, enquanto vira um copo de vodka com energético.

À medida que a noite avança, a fala de Ana Júlia se torna pastosa e suas risadas, mais altas. Ela se afasta das amigas com Ricardo, um garoto de outra escola. Ana Catarina e Ana Beatriz se olham, preocupadas.

— Cadê a Júlia? Já faz um tempão que ela sumiu com o Ricardo — comenta Ana Catarina, os olhos vasculhando a multidão.

— Sei lá... eles subiram para os quartos — Ana Beatriz responde, a voz carregada de preocupação.

Mais de uma hora depois, as duas resolvem procurá-la. Elas a encontram na sala de estar, sentada em um sofá, com o olhar perdido no vazio. Ricardo estava ao lado, com o celular na mão, distraído.

— Vamos, Júlia, vou te levar para casa — Ana Catarina diz, segurando o braço da amiga.

— Já... Já estava de saída... — Ana Júlia murmura, mal conseguindo se levantar.

As amigas a apoiam, levando-a para o carro de Ana Beatriz. No caminho para a mansão dos Carneiro Monteiro, o silêncio é o único som. O olhar vago e a postura distante de Ana Júlia preocupam as amigas, mas elas preferem não comentar. Elas se despedem na porta da casa de Ana Júlia, tentando convencer a si mesmas que tudo não passou de mais uma noite de excessos. Afinal, era só uma festa, e adolescentes fazem coisas de adolescentes. O que elas não sabiam era que aquela noite havia plantado a semente de um drama que mudaria a vida das três para sempre.