Laura saiu da faculdade já cansada, o corpo pedindo descanso. Caminhava devagar até chegar em casa e foi surpreendida ao ver Higor encostado no carro de sempre, mexendo no celular enquanto esperava Leonardo. Ele levantou o olhar e sorriu de um jeito que parecia natural, mas que nela sempre provocava um desconforto bom, quase perigoso.
Era estranho. Conhecia Higor desde menina, mas ultimamente algo nela tinha mudado. Não era mais o amigo divertido do irmão, era um homem que despertava nela coisas que não queria admitir.
Leonardo ainda não tinha aparecido. Higor guardou o celular no bolso e se aproximou devagar, com aquela calma que só aumentava a tensão.
— Você demorou — murmurou, a voz baixa, firme, como se cada palavra tivesse sido medida antes de sair. Os olhos dele percorreram rapidamente o quintal, garantindo que estavam sozinhos.
Laura tentou sorrir, mas o nervosismo transpareceu.
— A aula se estendeu um pouco. Mas você não devia estar aqui desse jeito… se meu irmão ver, vai desconfiar.
Higor inclinou o corpo, invadindo sutilmente o espaço dela. O perfume amadeirado se misturou ao ar frio do fim de tarde.
— Eu sei. Só que hoje não consegui esperar.
Ela sentiu o coração bater forte antes mesmo que ele a tocasse. O beijo foi rápido, urgente, como se ambos soubessem que não tinham tempo. Bastou o barulho metálico do portão se abrindo para que se afastassem, quase em sincronia.
Leonardo entrou falando ao celular, distraído, sem perceber nada. Higor ajeitou a postura, Laura fingiu naturalidade.
Por dentro, ela lutava contra a culpa e a adrenalina. Sabia que tudo aquilo era arriscado, mas também sabia que já não tinha forças para parar.
