Capítulo 1: O Início do Pesadelo – A Chegada da Covid-19 ao Brasil

No final de 2019, o mundo ainda vivia os últimos suspiros de uma década marcada por avanços tecnológicos e crises políticas. Ninguém poderia imaginar que um vírus microscópico, originado em um mercado de animais vivos em Wuhan, na China, mudaria a história da humanidade. A Covid-19, causada pelo SARS-CoV-2, um novo tipo de coronavírus, começou a se espalhar silenciosamente. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente uma pandemia global. Era o início de um pesadelo que custaria milhões de vidas e testaria a resiliência de nações inteiras. No Brasil, o vírus encontrou um terreno fértil para o caos — não apenas por questões estruturais, mas por um "vírus" de outra natureza, que começava a se manifestar na política.


O SARS-CoV-2 é menos letal que o Ebola, que tem uma taxa de mortalidade de até 90%, mas sua capacidade de transmissão é assustadora. Ele se espalha principalmente por gotículas respiratórias, o que significa que um simples espirro ou uma conversa em um ambiente fechado pode ser suficiente para infectar alguém. Os sintomas mais comuns incluem febre, tosse seca e dificuldade para respirar, mas o vírus também pode ser assintomático, o que o torna ainda mais perigoso. Grupos de risco, como idosos, homens e pessoas com doenças crônicas — diabetes, hipertensão ou problemas cardíacos —, enfrentam um risco maior de complicações graves. Em poucos meses, a Covid-19 já havia se espalhado por mais de 200 países, com milhões de casos confirmados e centenas de milhares de mortes.

No Brasil, o primeiro caso oficial foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo. Um homem de 61 anos, que havia retornado de uma viagem à Itália, testou positivo para o vírus. Na época, a Itália já era um dos epicentros da pandemia, com cenas trágicas de hospitais lotados e caixões se acumulando. O caso em São Paulo acendeu um alerta: o Brasil não estava imune. Nos dias seguintes, governadores e prefeitos começaram a agir. Medidas de isolamento social, como o fechamento de escolas, comércio e espaços públicos, foram implementadas para "achatar a curva" — uma estratégia que buscava espalhar os casos ao longo do tempo, evitando o colapso do sistema de saúde. Era uma tática antiga, usada com sucesso em cidades americanas durante a Gripe Espanhola de 1918 a 1920, mas que exigia adesão coletiva para funcionar.

A gravidade da situação no Brasil não demorou a se tornar evidente. Até dezembro de 2021, o país acumulava 22 milhões de casos confirmados e 617 mil mortes, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso colocava o Brasil como o segundo país com mais óbitos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que registravam cerca de 800 mil mortes na mesma época. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus enfrentavam cenas de caos: UTIs lotadas, filas de espera por leitos e profissionais de saúde exaustos. O vírus não fazia distinção de classe ou idade, mas os mais pobres, que dependiam do transporte público e não tinham a opção de trabalhar de casa, estavam mais expostos. A pandemia expôs as desigualdades históricas do Brasil, transformando uma crise de saúde em um drama social.

Enquanto o mundo se unia para combater o vírus, com países como a Nova Zelândia e a Coreia do Sul adotando medidas rápidas e eficazes, o Brasil parecia caminhar na contramão. O então presidente Jair Bolsonaro, que assumira o cargo em 2019 com um discurso conservador e uma base de apoio fervorosa, adotou uma postura que chocou especialistas e líderes mundiais. Apenas quatro dias após a OMS declarar a pandemia, em 15 de março de 2020, Bolsonaro participou de uma manifestação pró-governo em Brasília, ignorando completamente as recomendações de distanciamento social. Vestido com a camisa da seleção brasileira, ele cumprimentou apoiadores, tirou selfies e minimizou a gravidade da situação. "É uma gripezinha, uma fantasia", disse ele em pronunciamentos posteriores, repetindo frases que ecoariam como um mantra durante os meses seguintes.

A postura de Bolsonaro não era apenas uma opinião pessoal — ela tinha consequências reais. Naquele mesmo 15 de março, manifestantes vestidos de verde e amarelo, cores associadas ao bolsonarismo, ignoraram o cancelamento oficial dos atos e se aglomeraram em várias cidades do Brasil. Em São Paulo, a Avenida Paulista ficou lotada de pessoas que, influenciadas pelo discurso do presidente, viam as medidas de isolamento como uma ameaça à liberdade, e não como uma necessidade de saúde pública. O vírus, que já circulava silenciosamente, encontrou ali um ambiente perfeito para se espalhar. Epidemiologistas apontam que eventos como esse contribuíram para o aumento de casos nas semanas seguintes, especialmente em um momento em que o Brasil ainda não tinha vacinas ou tratamentos eficazes.

Bolsonaro não estava sozinho em sua visão negacionista. Ele se juntava a uma lista de líderes mundiais que subestimaram a pandemia, como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Boris Johnson, no Reino Unido. O documentário Explicando... o Coronavírus, lançado pela Netflix em 2020, incluiu Bolsonaro em uma espécie de "lista da vergonha", destacando sua insistência em ignorar a ciência. Mas, no Brasil, o impacto dessa postura seria especialmente devastador. Com um sistema de saúde já sobrecarregado e uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o país precisava de liderança, coordenação e empatia. Em vez disso, o presidente parecia mais preocupado em manter sua base de apoio do que em salvar vidas.

Enquanto o SARS-CoV-2 se espalhava pelas cidades brasileiras, infectando e matando milhares, outro "vírus" começava a se manifestar. Um vírus feito de desinformação, negligência e polarização política. Jair Bolsonaro, com suas falas e ações, plantava as sementes de uma crise que iria além da saúde pública. A Covid-19 era um inimigo invisível, mas o Brasil logo descobriria que o maior contágio poderia estar vindo diretamente do Palácio da Alvorada. O que parecia ser apenas o início de uma pandemia global se tornaria, no Brasil, o palco de uma tragédia em dois atos: o vírus biológico e o vírus político. Como o país sobreviveria a essa dupla ameaça?