O carro de mudanças mal passava pela estrada de terra batida, levantando uma nuvem espessa de poeira que engolia a paisagem. Finalmente, Miguel parou o veículo diante da casa. Ela era imponente, com uma arquitetura pesada e madeira escura que parecia absorver a luz do fim de tarde.
Maria Joana desceu, esticando as pernas. O silêncio que a recebeu não era pacífico, mas sim opressor. Ela olhou em volta, procurando por uma luz, uma fumaça de chaminé, qualquer sinal de vida. Não havia nada. A propriedade estava isolada por uma densa cortina de árvores; a vizinhança parecia inexistente.
— Nossos vizinhos são as corujas e os esquilos, pelo visto — comentou Miguel, tentando injetar leveza no ambiente, mas seu sorriso parecia forçado.
— É... isolado demais, não acha? — Maria Joana abraçou-se, sentindo um arrepio que não vinha do frio.
Passaram as horas seguintes desempacotando o essencial. Miguel, prático e focado, tentava ignorar a poeira e o cheiro de mofo. Maria Joana, no entanto, movia-se com cautela. A casa parecia ter vida própria, com a madeira rangendo sob os pés e as sombras se alongando de forma estranha pelos cantos. Ela tinha a sensação incômoda de estar sendo observada, uma vigilância fria que a fazia virar a cabeça repetidas vezes para checar se estava sozinha.
O jantar foi feito às pressas e consumido em um silêncio pesado. Quando a noite finalmente engoliu a casa, o isolamento se tornou quase palpável. Não se ouvia um carro, um latido distante, nada. O silêncio era total.
Eles estavam na sala, exaustos, quando um vibrar súbito quebrou a quietude. Maria Joana pegou o celular. Era uma mensagem de um número desconhecido.
A mensagem continha apenas uma frase:
— Me liberte. Estou no porão.
Maria Joana sentiu o sangue gelar.
— Miguel, olha isso.
Ela estendeu o telefone para ele, a mão tremendo levemente. Miguel leu a mensagem e deu de ombros, devolvendo o aparelho.
— Deve ser trote. Alguém viu o caminhão de mudança e resolveu "dar as boas-vindas" com uma piada de mau gosto.
— Mas... quem? Não tem ninguém por perto! E por que "porão"?
Miguel se levantou e a abraçou pelos ombros, tentando confortá-la.
— Ei, calma. Eu examinei a casa com o corretor, lembra? A planta que ele nos deu é de um imóvel térreo e com sótão, só. Esta casa não tem porão, Maria Joana. É só uma brincadeira. Vamos esquecer isso e tentar dormir.
Maria Joana forçou um sorriso, mas a imagem daquelas palavras permanecia gravada em sua mente. Enquanto Miguel a guiava para o quarto, ela deu uma última olhada para a escuridão da sala de estar, convencida de que o telefone, de alguma forma, havia acabado de provar que eles não estavam sozinhos.
