Capítulo 1: A Oficina e a Saveiro

 Narrar minha vida sem falar de carros seria impossível. Parece meio clichê, eu sei, mas quando você passa mais tempo na oficina do que em casa, começa a achar que a graxa e o cheiro de óleo queimado fazem parte do teu DNA. E se tem um lugar que faz sentido para mim, é aqui, nessa oficina que chamamos de “Nosso segundo lar”. Quem dera as paredes pudessem contar as histórias que eu, o Gabriel, o Brendon, o Henrique e o Ney vivemos por aqui.

Cada um de nós tem uma função por aqui, e claro, nossas personalidades não poderiam ser mais diferentes. O Gabriel, sempre o mais cabeça fria, com aquela paciência que eu invejo. O Brendon, o maluco da galera, sempre pronto para inventar uma loucura nova nos carros dos clientes. Henrique é o perfeccionista, aquele que revisa cada detalhe duas vezes, e o Ney... bem, o Ney é o piadista, aquele que consegue arrancar risada até nos dias mais complicados.

Mas se tem uma coisa que nos une é a paixão por carros. Ah, e minha saveiro, claro, a “Salva”. Ela é o xodó aqui da oficina, minha companheira de todas as horas. Uma saveiro rebaixada, preta, com rodas que parecem sorrir quando batem na luz. Sabe aquele carro que quando você olha, você já sabe que ele tem história? Então, essa é a "Salva". E, sim, eu sei o que você está pensando: “Luis, por que esse nome?”. Vou te contar: ela me salvou de tantas situações que, sinceramente, parece que ela tem vida própria.

Cada arranhão na pintura, cada peça trocada, cada ajuste, tudo nela reflete um pouco de mim. Forte por fora, com uma estrutura que já passou por uns perrengues, mas sempre firme na estrada. E por dentro, bom, nem sempre tão intacto. A verdade é que cada peça que eu ajustei, cada detalhe que eu mudei na "Salva", me ajudou a ajustar um pedaço de mim também.

Eu lembro de quando comprei a saveiro. Não era nem de perto esse carro de hoje. Ela estava judiada, precisando de atenção, mas eu sabia que era ela. Tem gente que olha para um carro e vê só um monte de lata e parafuso, mas quem entende de verdade vê a alma por trás da carcaça. E eu enxerguei isso na "Salva" desde o primeiro dia.

Aqui na oficina, ela sempre foi a estrela. Gabriel gosta de dizer que a "Salva" é como uma extensão minha, e ele não tá errado. A saveiro e eu passamos por muito juntos, desde as madrugadas na estrada até aquele dia que eu tive que fugir de uma chuva de granizo, tentando proteger o teto dela com uma lona (não deu muito certo, mas a intenção valeu, né?).

Enfim, a vida na oficina é isso, o barulho das ferramentas, a música que sai de qualquer rádio velho que ainda funcione, e os amigos que viraram irmãos. Ninguém aqui está só consertando carros, a gente está se consertando também, de um jeito ou de outro. E, sinceramente? Acho que é por isso que eu amo tanto esse lugar.

Agora, olhando para a "Salva" estacionada ali, brilhando como nunca, penso no quanto ela é mais do que um carro. Ela é uma parte de mim, do meu passado e do meu presente. E talvez, de alguma forma, ela esteja me levando para o futuro também.

E essa oficina... bem, ela é o palco de todas as histórias que eu ainda nem sei que vou contar.

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