Capítulo 1 – A primeira mensagem

A luz da tarde entrava tímida pelas janelas empoeiradas quando Elisa empurrou mais uma caixa para o canto da sala. O cheiro de madeira velha se misturava ao de tinta fresca — resultado de uma reforma apressada antes da mudança. Estava exausta, mas aliviada por finalmente estar longe da cidade e, principalmente, do seu passado com Aylon.

O celular vibrou sobre a pilha de jornais que cobriam a mesa. Sem reconhecer o número, ela franziu a testa e abriu a mensagem:

"Me tire daqui. Estou no porão."

Elisa piscou algumas vezes, como se as palavras fossem se reorganizar na tela. Porão? Sua nova casa mal tinha um sótão pequeno e abafado. Ainda assim, respondeu:

"Você deve ter mandado a mensagem para o número errado. Aqui não tem porão."

A resposta veio quase instantânea:

"Tem sim. Armário velho no canto. Mesa quebrada. Cadeira com pé torto."

Um arrepio percorreu sua espinha. Ela olhou ao redor. Nenhum dos objetos descritos estava ali. Talvez fosse um trote, alguém entediado tentando assustá-la. Guardou o celular no bolso e voltou a organizar as caixas, decidindo ignorar.

À noite, quando o silêncio se instalou, Elisa preparava um chá na cozinha quando ouviu o som de passos lentos no andar de cima. O coração acelerou. Segurando a xícara com força, subiu cada degrau, mas não encontrou nada, apenas o rangido do piso de madeira.

Horas depois, já deitada, um som seco ecoou pela parede ao lado da cama. Três batidas. Depois, silêncio.

Na manhã seguinte, seu irmão, Wellyton, apareceu para ajudar com a mudança.

— Você está com uma cara péssima. Não dormiu bem? — perguntou Wellyton, enquanto carregava uma caixa para dentro.

— Acho que é só o barulho da casa. Madeiras velhas, sabe? — disse Elisa, tentando parecer tranquila.

— É normal no começo. Casas antigas têm vida própria. Você só precisa se acostumar.

Ela forçou um sorriso, mas por dentro sabia que não era apenas a “vida própria” da casa que a mantinha acordada.