O sol da manhã iluminava as ruas de Nova York, espalhando reflexos dourados pelos prédios imponentes. Para Adauto, aquele dia não era como os outros. Era especial. O ar fresco de setembro trazia consigo uma sensação de renascimento, de novas oportunidades. Ele olhava para o horizonte urbano com um misto de ansiedade e esperança. Finalmente, depois de meses de luta, havia conseguido seu primeiro emprego como entregador no centro de Manhattan.
Ao seu lado, sua esposa, Barbara, segurava a mão de Briana, sua filha mais nova. A menina, de sete anos, estava radiante, encantada com os arranha-céus que pareciam tocar o céu.
— Olha, papai, são tão altos! — exclamou ela, apontando para os edifícios.
Briana sempre fora curiosa, e Nova York, com suas ruas movimentadas, sons e cores, parecia um parque de diversões para ela. August, o filho mais velho, de dez anos, caminhava ao lado, em silêncio. Ele era mais observador, mais reservado que a irmã, mas Adauto sabia que, lá no fundo, ele também estava fascinado pela grandeza da cidade.
Barbara, por outro lado, exibia uma expressão serena, mas que escondia um leve nervosismo. Os últimos meses haviam sido difíceis para eles. Deixar o Brasil, o país onde cresceram, foi uma decisão cheia de incertezas. A barreira do idioma, o choque cultural e as dificuldades financeiras eram desafios diários que testavam a força do casal. Mas ali estavam eles, juntos, em busca de uma vida melhor, e isso dava a Adauto uma força inexplicável.
— Vai dar certo — pensou ele, como um mantra que repetia para si mesmo todas as manhãs.
No carro, enquanto dirigia pelas ruas que se estreitavam à medida que se aproximavam do centro, Adauto olhou pelo retrovisor e viu Briana com o rosto colado à janela, os olhos grandes refletindo a cidade que passava. August, do outro lado, também observava, mas com uma postura mais contida. Adauto reconhecia o olhar do filho. Era o mesmo que ele tinha quando chegara aos Estados Unidos pela primeira vez: um misto de deslumbramento e incerteza.
— Hoje é um grande dia — disse ele, tentando conter a excitação na voz.
Barbara olhou para ele e sorriu. Sabia o quanto aquele emprego significava para ele — para todos eles, na verdade. Não era apenas uma questão de trabalho. Era uma chance de recomeçar, de finalmente começar a construir a vida que eles sonhavam.
— Vai ser ótimo, Adauto — respondeu Barbara, com sua calma característica. — Você merece.
Adauto assentiu, sentindo o peso da responsabilidade, mas também o desejo de provar a si mesmo e à sua família que a mudança para os Estados Unidos tinha sido a escolha certa. Ele sabia que o caminho não seria fácil. As contas ainda estavam apertadas, e eles precisariam de tempo para se estabelecer de verdade. Mas aquele emprego era o primeiro passo — e um passo importante.
Eles estacionaram o carro em uma rua lateral, próxima ao local onde ele começaria sua rota. Era um bairro movimentado, com pedestres indo e vindo apressados, mas Adauto se sentia à vontade. De algum modo, aquela energia frenética o lembrava da vida nas grandes cidades brasileiras. O barulho constante das buzinas, o fluxo incessante de pessoas, as conversas rápidas em uma língua que ele ainda estava aprendendo a dominar.
Antes de sair do carro, ele virou-se para trás e encarou sua família por um instante. Briana o olhava com expectativa, e August, mesmo na sua introspecção, parecia orgulhoso. Barbara, com seu sorriso encorajador, passou confiança para Adauto de que ele não estava sozinho naquela jornada.
— Depois que terminar o trabalho, a gente dá uma volta — prometeu ele, com o entusiasmo de alguém que também queria aproveitar aquele momento com sua família. Ele sabia que o trabalho exigiria dedicação e sacrifícios, mas hoje, pelo menos, era sobre celebrar esse pequeno triunfo.
Eles caminharam um pouco pelas ruas antes de Adauto começar. O centro de Manhattan era ainda mais impressionante a pé. As torres imensas, os prédios antigos misturados com o novo, as lojas e restaurantes cheios. Adauto queria que Barbara e as crianças conhecessem um pouco mais da cidade onde iriam construir suas novas memórias.
— Lá estão elas! — disse Barbara, apontando para o horizonte, onde as torres gêmeas do World Trade Center se erguiam majestosamente.
Briana arregalou os olhos, impressionada, e August, por um segundo, deixou escapar um sorriso tímido.
Adauto ficou parado por um instante, observando aquelas torres que pareciam tocar o céu. Ele sentiu um arrepio de excitação e uma sensação de conquista. Olhando para sua família e para as torres que simbolizavam o poder e a grandiosidade da cidade, ele pensou consigo mesmo que, por mais altos que fossem os desafios, eles estavam prontos para enfrentá-los. Afinal, eles tinham uns aos outros — e isso era o suficiente.
Com um suspiro profundo, ele olhou para o relógio. Estava na hora de começar. O futuro os aguardava, e Adauto estava determinado a agarrá-lo com todas as suas forças.