Capítulo 10: O legado


CAPÍTULO 10


 Dois dias depois do roubo, a Avenida Paulista não era mais a mesma para a gente. O MASP, o lugar que antes era um sonho distante, agora era uma memória. A gente se encontrou em um bar na Vila Madalena, o nosso lugar favorito. O lugar que, anos atrás, era onde a gente reclamava da vida, agora era o palco do nosso triunfo. A Ocean Blue tinha sido entregue, e o dinheiro do nosso acordo tinha sido transferido para uma conta em um paraíso fiscal. A gente não era só rico. A gente era livre.

Eu olhava para o Heron e, sinceramente, não conseguia acreditar em tudo o que a gente tinha feito. A gente tinha enganado uma hacker genial e uma agente da Polícia Federal. Eu me sentia como se estivesse em um filme. E o Heron... ele estava mais tranquilo do que nunca.

— Cara, você é um gênio. Como você sabia que a Serena era da polícia? — eu perguntei, tomando um gole da minha cerveja.

Heron sorriu, um sorriso que eu não via há muito tempo. Um sorriso verdadeiro.

— Eu não sabia. Mas eu precisava de um plano que me desse uma saída, não uma prisão. Eu não podia simplesmente entregar a joia. E a história da hacker... eu tinha que dar a ela uma razão para me deixar ir.

Eu balancei a cabeça, impressionado.

— E deu certo. Agora, o que a gente faz?

Heron olhou para o copo de cerveja, pensativo.

— A gente pode viajar o mundo. A gente pode montar uma empresa. A gente pode fazer o que a gente quiser, Tadeu.

— O que a gente quiser... — eu repeti, a ideia parecendo surreal.

— Sim. É estranho, não é? A gente trabalhou tanto para conseguir isso, e agora que a gente tem, não parece ser a coisa mais importante do mundo.

Heron estava certo. A coisa mais importante não era o dinheiro ou a liberdade. Era o que a gente tinha se tornado. Ele não era mais o garoto que trabalhava em empregos de meio período. Ele era um estrategista, um líder nato, um gênio. E eu não era mais o coadjuvante. Eu era parte de tudo aquilo.

Eu olhei para o meu amigo, para o Heron, o cara que sempre foi mais do que um amigo. Ele era meu irmão, meu confidente, o cara que me mostrou que a vida não precisava ser apenas o que a gente esperava dela. Ele me mostrou que a gente podia ser mais do que a gente era. A gente podia ser heróis, mesmo que, por trás das cortinas, tivéssemos sido os vilões.

A história da Ocean Blue não foi sobre o roubo de uma joia. Foi sobre a jornada de dois amigos que se superaram. O verdadeiro tesouro não foi o que estava na maleta. Foi o que a gente descobriu sobre a gente mesmo. A inteligência, a força, a lealdade. O Heron me ensinou que o maior tesouro do mundo é a capacidade de acreditar em si mesmo. E eu, por sua vez, nunca parei de acreditar nele.

A gente não se tornou milionário, a gente se tornou quem a gente sempre deveria ter sido. E o nosso legado não era o roubo de uma joia, mas sim, a história de uma amizade que superou todos os limites.