O dia do teste finalmente chegara, e a ansiedade estava no ar. Chris acordou cedo, com o sol ainda nascendo, iluminando o pequeno barraco onde morava. Dona Teresa já estava na cozinha, preparando um café simples, mas feito com carinho. O aroma do café misturava-se ao cheiro da terra molhada que entrava pela janela aberta, trazendo um leve frescor ao ambiente.
— Vai dar tudo certo, meu filho — disse Dona Teresa, notando a tensão no rosto de Chris. — Você treinou duro, e eu sei que você é capaz.
Chris sorriu, tentando transmitir segurança, mas, por dentro, a pressão o esmagava. O peso da expectativa era palpável. Ele não apenas queria passar no teste para realizar seu sonho; queria ser a esperança da sua família, a luz em meio à escuridão que muitas vezes os cercava. O futebol era sua única possibilidade de escapar da realidade dura da favela, e o pensamento de desapontar sua mãe era insuportável.
Ele vestiu a camisa do seu time, calçou as chuteiras que o treinador lhe dera e olhou-se no espelho improvisado que refletia a luz fraca do sol. Estava nervoso, mas ainda assim animado. O teste seria em um campo profissional, longe do chão de terra que conhecia tão bem, e ele sabia que tinha que dar o seu melhor.
Ao chegar ao campo, a atmosfera era eletrizante. Outros garotos de várias comunidades também aguardavam ansiosos, cada um carregando sonhos e esperanças nos ombros. Chris se misturou entre eles, tentando não se deixar levar pela ansiedade que crescia a cada instante. Ele respirou fundo, tentando se concentrar. O tempo passou, e logo os treinos começaram.
Mas, conforme as atividades avançavam, algo começou a incomodá-lo. As preocupações com os problemas em casa começaram a surgir em sua mente, como sombras que ofuscavam sua visão. Ele pensou em sua mãe, nas contas que acumulavam e nas dificuldades que enfrentavam. As imagens da última briga que presenciara entre os vizinhos, a insegurança que pairava sobre a favela, tudo isso começou a tomar conta de seus pensamentos.
Quando finalmente chegou a sua vez de entrar em campo, a pressão se transformou em uma névoa densa que o envolvia. Chris tentava se focar, mas cada toque na bola parecia mais difícil que o anterior. Ele escorregou em uma jogada simples, errou passes que normalmente não falharia, e, em sua mente, a sensação de fracasso se intensificava. A cada erro, seu coração disparava, e ele se sentia mais distante do seu sonho.
O teste durou uma hora, mas para Chris, foi como uma eternidade. Ele lutava contra si mesmo, mas a frustração era palpável. Quando o apito final soou, uma onda de desespero tomou conta dele. Sabia que não tinha jogado bem. Sabia que não tinha mostrado o que realmente era capaz.
Ao deixar o campo, Chris se sentiu como se uma porta tivesse se fechado atrás dele, trancando seus sonhos para fora. A rejeição foi um golpe duro. Ele não era apenas um jovem que falhou em um teste; ele sentia que havia decepcionado sua mãe, que havia desapontado a esperança que ela depositara nele. O peso dessa percepção era insuportável.
As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto enquanto caminhava de volta para casa. Ele sabia que não poderia chorar na frente de Dona Teresa. Precisava ser forte. Mas, à medida que se aproximava de casa, seu coração se enchia de um desespero profundo. A sensação de fracasso se instalava, e a voz de dúvida começou a ecoar em sua mente. O que faria agora? O que restava quando o sonho parecia tão distante?
— Chris, meu filho! — gritou Dona Teresa ao vê-lo se aproximar. O sorriso dela era caloroso, mas quando notou a expressão em seu rosto, a alegria rapidamente se transformou em preocupação. — O que aconteceu? Você conseguiu?
Chris não conseguiu olhar nos olhos dela. Ele se sentou à mesa, o peso da rejeição tornando-se insuportável.
— Não passei... — murmurou, a voz embargada.
O silêncio tomou conta da cozinha, e Dona Teresa se sentou ao lado dele, segurando sua mão.
— Filho, eu sei que você deu o seu melhor. O que importa é que você tentou. O futebol não é tudo na vida — começou ela, mas Chris interrompeu.
— É sim, mãe! Para mim, é tudo! Eu queria ter feito por você. Queria mudar nossa vida.
Dona Teresa respirou fundo, compreendendo o desespero do filho. Ela o abraçou forte, tentando transmitir um pouco de força.
— Você ainda pode tentar novamente, meu amor. Não é o fim. Não se deixe abater. A vida é feita de tentativas, e você já fez tanto até aqui. Você é mais forte do que pensa.
Chris sentiu o calor do abraço materno, mas a dor ainda persistia. Ele não sabia se tinha forças para continuar. O sentimento de fracasso pesava em seus ombros como um manto de chumbo. Mas, mesmo em meio à tristeza, uma voz interior sussurrava que não poderia desistir. O futebol era seu propósito, e cada revesse era uma oportunidade disfarçada.
Enquanto a noite caía, Chris decidiu que, apesar da dor, não se permitiria desistir. Ele precisava encontrar um caminho. O futebol era o que dava sentido à sua vida, e ele não deixaria que uma porta fechada o impedisse de sonhar. Com o tempo, ele aprenderia que algumas portas se fecham apenas para que outras se abram. E, para Chris, essa luta era apenas o começo.