Capítulo 14: A Captura

 O som do helicóptero crescia como um trovão, as hélices cortando o ar úmido da vila costeira enquanto Higor, Henrique e Ana corriam pelas ruas desertas. O cheiro de sal e madeira podre misturava-se ao odor de diesel que descia do céu, o feixe de luz do helicóptero varrendo o chão como um predador caçando sua presa. A areia fofa grudava nas botas encharcadas deles, tornando cada passo uma luta, e o ronco das ondas ao fundo parecia zombar de sua fuga.

— Pra onde, Ana? — gritou Henrique, a faca na mão enquanto olhava para trás, os olhos verdes arregalados de pânico. O helicóptero pairava mais baixo agora, o vento das hélices jogando poeira e folhas contra eles.

— Qualquer lugar que não seja aqui! — respondeu Ana, a mochila batendo nas costas enquanto ela segurava o documento rasgado contra o peito. Ela apontou para um galpão à esquerda, uma estrutura de metal enferrujado meio escondida entre as dunas. — Ali, rápido!

Higor liderou o caminho, o caderno enfiado no bolso, os pulmões ardendo enquanto corria. Eles alcançaram o galpão e se jogaram para dentro, o chão de concreto frio sob seus corpos encharcados. A porta rangeu quando a fecharam, o som abafado pelo zumbido que se aproximava. Mas antes que pudessem respirar, botas pesadas ecoaram do lado de fora, seguidas por vozes secas e ordens cortantes.

— Saiam com as mãos pra cima! — gritou uma voz grave, amplificada por um megafone. — Vocês estão cercados!

Ana pressionou as costas contra a parede, o rosto pálido enquanto espiava por uma fresta na janela enferrujada. Soldados em uniformes pretos, rifles nas mãos, desciam de cordas do helicóptero, as máscaras cobrindo seus rostos como espectros. Um homem mais velho, de cabelo grisalho curto e postura rígida, liderava o grupo, um distintivo dourado brilhando em seu peito.

— Eles são militares — sussurrou ela, a voz trêmula. — Não temos como escapar disso.

— A gente luta — disse Henrique, levantando a faca, os dentes cerrados. — Não vou deixá-los me pegarem depois de tudo!

— Com uma faca contra rifles? — retrucou Higor, agarrando o braço do irmão para puxá-lo para baixo. Ele olhou nos olhos dele, a respiração pesada. — A gente não tem chance, Henrique. Vamos tentar falar com eles.

Antes que pudessem decidir, a porta do galpão foi chutada com um estrondo, o metal dobrando como papel. Os soldados entraram em formação, os canos dos rifles apontados para os três. O homem grisalho — o Coronel Vargas, como dizia o nome bordado em seu uniforme — deu um passo à frente, os olhos frios examinando-os como se fossem insetos.

— Larguem qualquer arma e fiquem de joelhos — ordenou ele, a voz calma, mas cortante como uma lâmina. — Não vou repetir.

Henrique hesitou, a faca tremendo na mão, mas Ana largou a mochila no chão, levantando as mãos devagar.

— Faça o que ele diz, Henrique — murmurou ela, os olhos fixos no coronel. — A gente não morre aqui.

Com um grunhido de frustração, Henrique jogou a faca no chão, o metal tilintando contra o concreto. Higor levantou as mãos também, o coração disparado enquanto os soldados avançavam, algemando-os com movimentos rápidos e precisos. Eles foram arrastados para fora, o ar frio da manhã batendo em seus rostos enquanto o helicóptero pairava acima, o ronco das hélices abafando qualquer chance de protesto.

Horas depois, os três estavam em uma base militar secreta, uma fortaleza de concreto escondida entre falésias rochosas a quilômetros da vila. O cheiro de metal e desinfetante dominava o ar, as luzes fluorescentes zumbindo no teto enquanto eram levados para uma sala de interrogatório. As algemas cortavam os pulsos de Higor, e ele sentia o peso do caderno no bolso, intocado pelos soldados — por enquanto.

O Coronel Vargas entrou, a porta de aço fechando atrás dele com um clique. Ele jogou uma pasta sobre a mesa de metal, os papéis dentro marcados com selos de "Confidencial", e cruzou os braços, o olhar fixo nos três.

— Vocês são os únicos que escaparam da Ilha das Brumas — disse ele, a voz seca. — Isso os torna um problema.

— Problema? — exclamou Henrique, puxando as algemas até elas rangerem. — Vocês são os que deixaram aquele inferno acontecer! Meu pai, minha mãe... todos mortos por causa de vocês!

Vargas levantou uma sobrancelha, mas não se abalou.

— Não exatamente — respondeu ele, abrindo a pasta e puxando um documento amarelado. — O parasita X-17 foi criado como arma biológica, sim. Décadas atrás, um navio de teste naufragou no litoral do Paraná. Achávamos que estava contido... até que idiotas como o pescador de vocês começaram a mexer onde não deviam.

— Contido? — repetiu Ana, inclinando-se para a frente, os olhos faiscando de raiva. — Vocês usaram a ilha como laboratório! O documento que achei fala de um "teste". Isso não é contenção, é experimento!

Vargas deu um sorriso frio, quase imperceptível.

— Monitoramento, senhorita — corrigiu ele. — A Ilha das Brumas foi isolada para estudar o parasita em um ambiente controlado. Mas o plano falhou, e agora estamos limpando a bagunça. Inclusive vocês.

— Limpando? — perguntou Higor, a voz baixa, mas carregada de suspeita. Ele olhou para Vargas, o estômago revirando. — O que isso quer dizer?

Antes que Vargas pudesse responder, um estrondo distante sacudiu a base, o chão tremendo sob seus pés. Outro seguiu, mais forte, o som de explosões ecoando como trovões abafados. Vargas virou a cabeça para a janela pequena da sala, onde o horizonte ao longe brilhava com flashes alaranjados.

— Isso quer dizer que a ilha não existe mais — disse ele, o tom impassível. — Bombardeada até virar cinzas. Ninguém vai saber o que aconteceu lá... desde que vocês cooperem.

Os três se entreolharam, o peso das palavras de Vargas caindo sobre eles como uma pedra. A ilha, suas casas, suas vidas — tudo reduzido a pó. E agora, estavam nas mãos de quem fizera isso.