Capítulo 2 - As mensagens e a incredulidade

 A manhã trouxe um alívio momentâneo para Maria Joana, mas a sensação de paz se desfez assim que ela pegou o celular. Durante a noite, mais três mensagens haviam chegado do mesmo número desconhecido, todas assinadas: "Elisa."

O teor das mensagens havia mudado. Não eram mais apenas súplicas vagas; agora, continham observações que só podiam ser feitas por alguém dentro da casa.

— Você está sentada na poltrona verde com o tecido rasgado no braço esquerdo. Eu a odeio.

— Miguel está na cozinha, fervendo água no fogão velho. A chaleira assobia alto.

Maria Joana gelou. Ela estava, de fato, na poltrona, e podia ouvir o assobio estridente da chaleira.

Ela correu até a cozinha, mostrando o celular a Miguel. Ele leu as mensagens, e por um instante, o ceticismo vacilou em seus olhos, substituído por uma ponta de alarme. Ele rapidamente recuperou a compostura.

— Isso é software! Algum hacker esperto que conseguiu acesso às nossas câmeras e microfones, talvez da empresa de segurança. Deve ter alguma vulnerabilidade na rede Wi-Fi que instalamos ontem — ele teorizou, batendo na mesa.

— Nossas câmeras e microfones? Miguel, nós não instalamos nada! — Maria Joana o confrontou, sentindo o terror se transformar em frustração.

Miguel ignorou a lógica.

— Certo. Então, é alguém nos observando com binóculos de longe, o que eu duvido muito. Isso aqui é um trote, Joana. Um trote muito bem orquestrado para nos assustar, por sermos os novos moradores.

Enquanto ele falava, o telefone de Maria Joana vibrou novamente com uma nova mensagem, fazendo-a estremecer.

— A porta da cozinha está rangendo, não está? Você consegue ouvir?

A porta em questão rangeu naquele exato momento, como se para confirmar a frase. O som foi alto o suficiente para fazer Miguel se virar.

— Não se preocupe, deve ser só alguém pregando uma peça. Vamos colocar uma cerca mais alta — tranquilizou Miguel, voltando a ferver a água com uma determinação nervosa. Ele estava decidido a não dar voz ao medo.

Apesar da incredulidade de Miguel, coisas sutis começaram a acontecer. Maria Joana encontrava os chinelos virados de cabeça para baixo; os livros na estante, sempre organizados por ela, estavam desalinhados; um copo deixado na beira da pia aparecia misteriosamente no meio da mesa. Eram movimentos pequenos e irritantes, fáceis de atribuir ao cansaço ou à desatenção, exceto que, a cada movimento, Maria Joana ouvia um sussurro etéreo vindo dos cantos mais escuros, quase inaudível, mas inconfundível.

E o sussurro era sempre a mesma palavra: "Porão."

Incapaz de convencer Miguel e assustada demais para ignorar, Maria Joana decidiu agir sozinha. Ela pegou seu laptop e começou a pesquisar sobre o histórico da casa. Ela vasculhou arquivos de notícias antigos, registros de propriedade e fóruns de fofocas locais.

Demorou horas, mas ela finalmente encontrou. Uma manchete antiga, falando sobre o desaparecimento inexplicável de uma moradora da casa. O nome era Elisa. A reportagem mencionava vagamente um mistério não resolvido e ligava o caso a eventos assustadores que culminaram na história que ela havia lido anos atrás: O Porão.

Maria Joana fechou o laptop, o coração disparado. Elisa não era uma brincadeira. Elisa era a antiga moradora, uma vítima, e ela estava, de alguma forma, tentando se comunicar através do celular, presa em algum lugar que a planta dizia não existir. Presa no porão.