A casa estava envolta em um cheiro aconchegante de comida caseira. Laura havia preparado macarrão com almôndegas, o prato favorito de Maria Isabel. A menina, sentada na cadeira ao lado da mãe, balançava as perninhas enquanto enrolava o macarrão no garfo com movimentos desajeitados.
— Mamãe — chamou Maria Isabel, de repente.
Laura sorriu e levantou os olhos do prato.
— Sim, meu amor?
Maria Isabel franziu a testa como se estivesse juntando coragem para falar algo importante. Então, perguntou:
— Eu saí da sua barriga?
O garfo de Laura parou no meio do caminho. Seu coração disparou. Ela sabia que esse momento chegaria, mas não esperava que viesse assim, entre uma garfada e outra.
— Por que está perguntando isso, meu bem?
Maria Isabel deu de ombros.
— Hoje, na escola, a professora falou que os bebês nascem da barriga da mãe. A Helena disse que viu foto dela quando era bebê, dentro da barriga da mãe dela. Eu também estava na sua?
Laura sentiu um nó apertar sua garganta. Queria dizer a coisa certa, sem rodeios, sem medo. Respirou fundo e pousou o garfo no prato antes de segurar as mãozinhas pequenas de Maria Isabel.
— Você não saiu da minha barriga, meu amor — disse com suavidade —, mas saiu do meu coração.
Maria Isabel inclinou a cabeça, pensativa.
— Do seu coração?
Laura assentiu.
— Isso mesmo. Você foi escolhida para ser minha filha, e eu fui escolhida para ser sua mãe. E desde o primeiro dia, você mora aqui — colocou a mão sobre o peito.
Maria Isabel a observou por alguns segundos, como se tentasse encaixar essa nova informação em sua cabecinha curiosa. Então, deu um sorriso pequeno e voltou a mexer no prato.
— Tá bom.
Laura soltou o ar que nem percebeu que estava prendendo. Mas algo dentro dela dizia que essa seria apenas a primeira de muitas perguntas.
Mais tarde, depois de colocar Maria Isabel para dormir, Laura pegou o celular e enviou uma mensagem para Beatriz:
“Ela perguntou se saiu da minha barriga. Falei que saiu do meu coração. Foi suficiente por enquanto. Mas e quando não for mais?”
A resposta de Beatriz chegou alguns minutos depois:
“Isso é um bom começo, Laura. O importante é manter a conversa aberta. Quando ela perguntar de novo, responda com a mesma verdade e com a mesma doçura. Não tenha medo da curiosidade dela.”
Laura encarou a tela do celular por um momento antes de colocá-lo de lado. Beatriz estava certa. A maternidade era cheia de perguntas. Algumas fáceis, outras difíceis. Mas, no fim, o mais importante era que Maria Isabel sempre soubesse que sua mãe estava ali, pronta para responder todas elas.
E, mais do que isso, pronta para amá-la, independentemente das respostas.