A luz do salão principal era suave e artificialmente dourada, realçando a pele bronzeada e os sorrisos fáceis dos convidados. O ar cheirava a maresia e tabaco caro, uma combinação que Luciano jamais imaginara. A música eletrônica parecia vibrar nas paredes de vidro, ecoando a batida acelerada de seu próprio coração.
Arthur, o anfitrião, não o soltou. Seu aperto no braço de Luciano era firme, mas não agressivo.
— Você precisa de algo na mão — disse Arthur, fazendo um sinal para um garçom que pairava nas proximidades. — Não se preocupe, não servimos a cerveja aguada do interior aqui.
O garçom, vestindo um uniforme imaculado, estendeu uma taça alta, preenchida com um líquido azul-turquesa que parecia brilhar. Luciano pegou, sentindo o vidro gelado.
— O que é isso? — perguntou, tentando disfarçar a inexperiência.
— É a Curitiba de verdade. Bebida dos deuses — Arthur riu, um som rico e seco. — Tome. Relaxe. Você está entre amigos.
Antes que Luciano pudesse dar o primeiro gole, Arthur o puxou para um círculo de jovens que conversavam animadamente perto da piscina infinita que se estendia para o horizonte noturno da cidade. A vista era de tirar o fôlego.
— Pessoal! Olhem só quem eu resgatei do tédio de um bairro distante! Este é Luciano.
Os rostos se viraram, e Luciano sentiu-se examinado como uma peça de museu. Eles eram as pessoas mais bonitas que ele já tinha visto em sua vida: mulheres com vestidos que pareciam feitos de água e homens com cortes de cabelo perfeitos e jóias discretas, mas valiosíssimas.
Uma jovem de cabelos escuros e olhar vivaz, chamada Sofia, o cumprimentou primeiro.
— Oi, Luciano! É um prazer. De onde você é? Meu último verão passei quase todo em Capri. Você conhece Capri?
— Eu sou... de uma cidadezinha perto de Ponta Grossa — ele respondeu, sentindo a ironia da comparação.
— Ah, sim. Interior do Paraná. Adoro as estradas. Você veio para a capital para se libertar? — perguntou um homem alto e sarado, chamado Otávio.
Luciano tentou responder, mas um terceiro jovem, de olhos verdes e que exibia um sorriso cativante, se aproximou. Era Gabriel. Ele se moveu com uma elegância despretensiosa, exalando um perfume que era inebriante.
— Parem de intimidá-lo, gente. Ele acabou de chegar — interveio Gabriel, dirigindo-se a Luciano com uma suavidade surpreendente. — Fica à vontade. Esses aqui vivem viajando. Conhecem o mundo todo, mas se perdem em qualquer rua fora do Batel.
Luciano sorriu, grato pela intervenção de Gabriel.
— Obrigado. É tudo muito... diferente.
— Diferente é o normal, aqui — Gabriel piscou, pegando um copo de espumante na mão. — Arthur adora misturar as tribos. Não importa de onde você veio. Se você está aqui, você faz parte.
Gabriel se inclinou para perto, e o cheiro de menta e o perfume caro se intensificaram.
— Quer sair da roda por um instante? Vou te mostrar a vista de verdade.
Luciano assentiu. Arthur observava a interação com um sorriso de canto de boca antes de ser engolido por outros convidados. Gabriel o conduziu para a beirada do terraço. Lá embaixo, as luzes da cidade formavam um mapa complexo e cintilante.
— Você está vendo aquilo? — Gabriel apontou para uma torre iluminada no centro. — É a Curitiba que não dorme. E é a sua primeira vez vendo ela de cima, não é?
— É a primeira vez vendo qualquer coisa de cima — admitiu Luciano, sentindo-se estranhamente à vontade com Gabriel. — É lindo.
— Você é lindo, Luciano. E acho que Arthur percebeu isso — Gabriel disse, com a voz ligeiramente mais baixa, olhando para ele com uma intensidade que o fez corar. — Aproveita a noite. Não precisa ser quem você era antes de entrar neste elevador.
A bebida azul começou a fazer efeito, e a timidez de Luciano se dissipava com cada gole. Ele sentia o peso de suas preocupações sumir, trocado por uma euforia leve e tentadora. Aquele lugar era um portal para uma vida que ele nunca soubera que existia, e ele estava pronto para mergulhar de cabeça.
— O que mais eu posso experimentar aqui? — perguntou Luciano a Gabriel, sentindo uma ousadia que nunca antes experimentara.
Gabriel sorriu, um sorriso que prometia mais do que apenas uma festa.
— Ah, Luciano. O melhor ainda está por vir.
