Os dias seguintes à festa pareciam ter criado um clima estranho entre Gabriel e Raíssa. Ela estava cada vez mais insistente, querendo marcar encontros, ligar a todo instante e planejar programas de casal. Gabriel, por outro lado, começava a sentir um peso naquela cobrança.
— Gabriel, você quase não me procura — reclamou Raíssa, enquanto caminhavam de mãos dadas pela rua. — Eu não quero ser só a garota que você beija em festa.
— Eu sei, Raíssa..., mas você exagera. Nem sempre dá pra ficar junto o tempo todo.
— Exagero? Eu só quero um pouco mais de atenção. Você mal responde minhas mensagens.
Gabriel respirou fundo. Não queria discutir, mas a pressão estava ficando cada vez mais sufocante. Quando chegou em casa naquela noite, pegou o celular e enviou uma mensagem para João Pedro, que rapidamente respondeu.
No dia seguinte, eles se encontraram em uma lanchonete próxima à escola. João Pedro percebeu que Gabriel estava abatido.
— E aí, cara... tá com uma cara de quem carregou o mundo nas costas. O que rolou?
Gabriel suspirou, mexendo no copo de refrigerante.
— Às vezes acho que ela não me entende. Tudo que eu faço parece errado. É cobrança atrás de cobrança. Eu gosto dela, mas... não sei se é desse jeito que quero.
João Pedro inclinou a cabeça, pensativo.
— Relacionamento não pode ser prisão, mano. Se tá te sufocando, precisa pensar no que realmente quer.
— É que... quando tô com você, a conversa flui, é leve. Com ela... parece que eu tô sempre em dívida.
João Pedro deu um leve sorriso e deu um tapa amigável no ombro do amigo.
— Então já tem sua resposta. Amizade não pesa. Talvez você só esteja tentando segurar algo que não faz sentido mais.
Enquanto Gabriel se perdia em suas próprias dúvidas, em outro canto da cidade Renan e Kaio faziam planos em frente à garagem da casa de Kaio, onde a moto reluzia recém-polida.
— Imagina a gente descendo pra praia no fim do ano, Renan? Dois dias só de estrada, música alta e liberdade.
— Você sonha, mas eu topo! Vai ser a melhor viagem de todas. Só não vai me deixar pra trás, hein? — brincou Renan, jogando a mochila no amigo.
— Nunca, parceiro. A gente é um time.
As risadas ecoaram pela rua, mas a alegria durou pouco. Horas depois, a notícia chegou como um soco. Kaio havia sofrido um acidente de moto voltando para casa à noite.
Renan correu para o hospital, coração acelerado, mãos trêmulas. Ao chegar, foi barrado por uma enfermeira.
— O paciente está em cirurgia. Você precisa esperar.
— Mas ele é meu melhor amigo! — gritou Renan, desesperado. — Eu preciso ver ele, eu preciso saber se ele vai ficar bem!
A enfermeira apenas repetiu que era necessário aguardar. Renan se sentou no chão frio do corredor, escondendo o rosto nas mãos, sentindo o peso de um medo que nunca tinha experimentado antes.
Enquanto Gabriel buscava em João Pedro o conforto que Raíssa já não conseguia dar, Renan enfrentava a noite mais difícil de sua vida, sem saber se o amigo que tanto sonhava com o futuro sobreviveria ao presente.