Capítulo 2 – Entre amores e holofotes

 

 Na trajetória de Adriane Galisteu, poucos momentos foram tão intensamente expostos quanto o seu relacionamento com o piloto Ayrton Senna. Em um país onde a figura de Senna transcendeu os limites do esporte para se tornar um símbolo nacional, qualquer vínculo afetivo com ele inevitavelmente se tornaria objeto de atenção pública. Para Adriane, essa relação representou muito mais do que o envolvimento com uma figura admirada mundialmente. Foi um laço genuíno, construído entre encontros discretos, viagens e confidências, mas que, após sua ruptura trágica, acabou assumindo dimensões que fugiram ao controle da própria realidade.

Adriane conheceu Ayrton em 1993, em um momento de ascensão profissional e estabilidade emocional para ambos. Ela já era uma jovem conhecida na televisão e ele, um ídolo consagrado da Fórmula 1. A conexão entre os dois se deu de forma natural, longe dos holofotes iniciais, mas logo a curiosidade da mídia começou a cercá-los. Apesar de Senna ser uma figura notoriamente reservada em relação à sua vida pessoal, não tardou para que o romance se tornasse público.

A relação, embora discreta, era marcada por um afeto mútuo visível. Adriane esteve ao lado de Ayrton em momentos importantes, incluindo viagens internacionais e encontros familiares. Ambos, apesar das pressões externas, construíam um cotidiano possível entre as agendas intensas. Para Adriane, esse período significou também uma redescoberta emocional. O relacionamento com Senna lhe trouxe estabilidade afetiva, reconhecimento público e, principalmente, um sentimento de pertencimento.

Entretanto, tudo mudou no dia 1º de maio de 1994. O acidente fatal de Ayrton Senna no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, interrompeu abruptamente não apenas a carreira do piloto, mas também um capítulo importante da vida de Adriane. Naquele momento, ela deixou de ser apenas a companheira do ídolo para tornar-se, aos olhos do país, a mulher que vivenciava o luto de uma nação.

A dor da perda foi intensificada por elementos externos. Nos dias seguintes à morte de Senna, Galisteu enfrentou uma série de ataques velados e explícitos. Parte da família do piloto — especialmente figuras mais conservadoras — questionou publicamente a legitimidade da relação dos dois. Adriane, que deveria estar recolhida em seu luto íntimo, foi empurrada para um julgamento público impiedoso. Em muitos momentos, teve sua presença negada em cerimônias e rituais que envolviam a despedida de Senna.

A imprensa, por sua vez, não ofereceu qualquer alívio. Em busca de manchetes e cliques, veículos sensacionalistas exploraram sua imagem de forma constante e, por vezes, desrespeitosa. Surgiram boatos, especulações e comparações com antigas companheiras de Ayrton. Alguns sugeriam que Adriane buscava se promover em cima da tragédia. Outros colocavam em dúvida o amor que existia entre o casal. Ela, por sua vez, optou por se resguardar. Por muito tempo, não deu entrevistas, não apareceu em programas e manteve silêncio sobre os eventos que sucederam a morte do namorado.

O impacto emocional foi profundo. Em entrevistas posteriores, Galisteu revelou ter enfrentado um período de intensa dor psicológica, com episódios de depressão, insônia e solidão. Sentia-se injustiçada não apenas pela mídia, mas por parte da sociedade que se recusava a reconhecê-la como alguém que também havia perdido. A ausência de reconhecimento de sua dor foi, talvez, uma das experiências mais dilacerantes da época.

Mesmo diante de toda essa pressão, Adriane não recuou. Aos poucos, retomou sua vida pública. Publicou, em 1994, o livro “O Caminho das Borboletas”, no qual contou sua versão da história com Senna. A obra foi recebida com curiosidade pelo público e, ao mesmo tempo, com críticas por parte da imprensa. Ainda assim, o livro representou uma tentativa de recuperar sua própria narrativa, de resgatar a verdade de uma relação que, apesar da tragédia, havia sido real e transformadora.

A partir daquele ponto, Adriane compreendeu que sua imagem pública nunca mais seria a mesma. Havia se tornado, involuntariamente, uma figura vinculada a um dos maiores ídolos do país. E isso implicava responsabilidades e fardos que nem sempre desejou carregar. Com o tempo, encontrou maneiras de seguir adiante, ressignificando sua dor e reconstruindo sua trajetória de forma independente.

Esse ciclo de sua vida marcou o fim da ingenuidade diante da fama e o início de uma nova postura diante da mídia e do público. A mulher que fora julgada sem direito à defesa agora compreendia a necessidade de se proteger, de fortalecer sua própria voz e de escolher, com firmeza, os caminhos que desejava trilhar a partir dali.