Os dias seguintes se transformaram em um jogo de disfarces. Olhares que duravam um segundo a mais do que deviam, mensagens enviadas de madrugada, respostas rápidas apagadas logo depois. Laura inventava desculpas com naturalidade: estudo na biblioteca, trabalhos em grupo, visitas a amigas. Por trás de cada justificativa havia apenas uma verdade — o desejo de estar com Higor.
Numa tarde chuvosa, o som da água contra a janela deixava o quarto dele em um clima íntimo, abafado. Estavam deitados lado a lado, rindo de uma lembrança qualquer, quando o celular de Laura vibrou. O nome de Leonardo brilhou na tela como um alerta.
O riso desapareceu dos lábios dela. Sentiu o coração acelerar, como se tivesse sido pega em flagrante mesmo sem ter sido vista.
— Quem é? — Higor perguntou, já sabendo a resposta.
— Leonardo. Quer saber onde eu tô.
Ele se endireitou na cama, a expressão séria.
— Ele tá desconfiado?
Laura respirou fundo, tentando acalmar a ansiedade.
— Não… ainda não. Mas é questão de tempo se a gente continuar vacilando.
Por um instante, o silêncio entre os dois pareceu pesar mais do que a chuva lá fora. O risco era real, e os dois sabiam. Mesmo assim, quando Higor se inclinou e a puxou contra o peito, ela não resistiu.
O beijo veio intenso, como se fosse uma resposta à ameaça que rondava o segredo dos dois. Laura sentiu a consciência gritar que era errado, que estavam prestes a ser descobertos, mas o corpo dela não obedeceu.
O perigo os assustava, mas também os alimentava. Estar com Higor era como andar na beira de um abismo — aterrorizante e, ao mesmo tempo, impossível de abandonar.