Capítulo 2 - O Baú das Memórias

Na manhã seguinte, Antonio e Andressa acordaram cedo, ansiosos para continuar ouvindo as histórias da avó Tina. Depois do café da manhã, que incluía pão caseiro e doce de leite feito na própria fazenda, eles decidiram explorar a casa.

— A vó Tina disse que nossa família teve antepassados na Revolução Farroupilha — lembrou Andressa. — Será que tem alguma coisa antiga por aqui?

— Tem o sótão! — exclamou Antonio. — Aposto que deve ter coisas antigas lá.

Os irmãos subiram a escada de madeira que levava ao sótão. O lugar era escuro e empoeirado, com prateleiras cheias de caixas e móveis velhos cobertos por lençóis brancos. A luz entrava por uma pequena janela, iluminando partículas de poeira no ar.

— Isso aqui parece cenário de filme de aventura! — disse Antonio, animado.

Andressa começou a mexer nas caixas, enquanto Antonio puxava um lençol de cima de um móvel. Foi então que algo chamou sua atenção: no canto do sótão, quase escondido atrás de uma estante, havia um baú de madeira, grande e pesado, com ferragens antigas e um cadeado enferrujado.

— Olha isso! — ele chamou.

— Parece daqueles que guardam tesouros! — respondeu Andressa, correndo até ele.

Antonio tentou abrir, mas o cadeado não deixava.

— E agora?

— Vamos chamar a vó! — sugeriu Andressa.

Eles desceram apressados, encontrando Tina na cozinha, preparando um novo chimarrão.

— Vó! Achamos um baú velho lá no sótão! — disse Antonio, empolgado.

A avó parou o que estava fazendo e olhou para os netos com curiosidade.

— O baú? Vocês encontraram mesmo?

— Sim! Mas está trancado… o que tem lá dentro?

Tina sorriu e caminhou até um armário na sala. De dentro dele, tirou uma pequena chave enferrujada.

— Esse baú pertencia ao meu avô, que era bisneto de um dos revolucionários da Guerra dos Farrapos. Está fechado há muitos anos. Acho que está na hora de ver o que tem dentro.

As crianças vibraram de animação e correram na frente, guiando a avó até o sótão. Tina se ajoelhou diante do baú e encaixou a chave no cadeado, que fez um clique antes de se abrir. Antonio e Andressa prenderam a respiração quando a tampa foi levantada.

Os segredos do passado

Dentro do baú, havia pilhas de papéis envelhecidos, cartas manuscritas, um retrato desbotado e uma bandeira dobrada do Rio Grande do Sul, com suas cores verde, vermelha e amarela ainda vivas apesar do tempo.

— Uau… — sussurrou Andressa.

Antonio pegou uma das cartas com cuidado. A caligrafia era rebuscada, escrita com tinta já desbotada.

— Vó, o que são essas cartas?

Tina pegou uma delas e a abriu com cuidado. Seus olhos brilharam de emoção.

— São cartas de nossos antepassados, escritas durante a Guerra dos Farrapos.

Andressa segurou a bandeira com respeito.

— E essa bandeira?

— Essa bandeira foi passada de geração em geração. Dizem que pertenceu a um dos farrapos que lutaram ao lado de Bento Gonçalves. Nossa família tem uma ligação com ele.

Antonio arregalou os olhos.

— Sério? Então, quer dizer que a gente é meio que descendente de um farrapo?

Tina sorriu.

— De certa forma, sim.

Enquanto mexiam nos documentos, Antonio encontrou algo diferente no fundo do baú: uma espécie de medalhão de metal, com um símbolo esculpido.

— Olha isso! O que será?

Tina pegou o medalhão nas mãos e o observou com curiosidade.

— Não me lembro disso… parece muito antigo.

Andressa tocou o objeto e sentiu um leve arrepio.

— Que estranho… parece que está esquentando.

De repente, o medalhão começou a brilhar.

— O que está acontecendo?! — exclamou Antonio.

Uma luz forte e dourada envolveu as crianças, e, antes que pudessem reagir, tudo ao redor começou a girar. O sótão desapareceu, e eles sentiram como se estivessem sendo puxados para outro lugar, outro tempo…

Uma nova realidade

Quando a luz sumiu, Antonio e Andressa perceberam que não estavam mais no sótão da avó.

Eles estavam ao ar livre, no meio de um acampamento rústico, cercados por homens vestidos com roupas antigas, botas de couro, lenços no pescoço e chapéus de aba larga. O cheiro de fumaça de fogueira estava no ar.

— Andressa… onde a gente está?! — sussurrou Antonio, olhando ao redor.

Antes que ela pudesse responder, um homem alto e forte, com um olhar sério, se aproximou. Ele vestia uma jaqueta militar e tinha uma postura imponente.

— Ora, ora… o que temos aqui? — disse ele, franzindo a testa.

Antonio e Andressa se entreolharam, nervosos.

— Quem são vocês, guris? Nunca vi vocês por aqui…

Os irmãos estavam sem palavras, tentando entender o que havia acontecido. Mas, antes que pudessem responder, um outro homem, de bigode e olhos atentos, surgiu ao lado do primeiro.

— Deixa os pequenos, general. Parece que estão perdidos.

Antonio arregalou os olhos ao ouvir aquela palavra.

— "General"?

Andressa segurou o braço do irmão.

— Antonio… eu acho que estamos no século XIX…

Ele engoliu em seco e olhou para o homem de bigode com mais atenção. De alguma forma, ele parecia familiar.

— Vó Tina falou sobre Bento Gonçalves… — murmurou Antonio.

Os olhos do homem brilharam ao ouvir aquele nome.

— Quem falou de Bento Gonçalves?

As crianças não sabiam o que responder. O que diriam? Que haviam viajado no tempo?

Antes que pudessem pensar em uma explicação, o homem sorriu.

— Venham comigo. Vou apresentar vocês a alguém muito importante.

Antonio e Andressa se entreolharam mais uma vez, sentindo o coração bater acelerado.

Sem saber o que os esperava, seguiram o homem pelo acampamento. O que estava acontecendo? Eles realmente tinham viajado no tempo?

E, mais importante… eles conseguiriam voltar?