A sala de estar do pequeno apartamento de Heron se transformou no quartel-general da operação. As paredes, antes sem graça, agora estavam cobertas por mapas, plantas baixas do MASP e fotos da Ocean Blue, impressas em preto e branco. Meses se passaram desde a conversa no boteco. O que começou como uma ideia maluca havia se tornado um projeto de vida, e a rotina dos dois amigos era agora a de pesquisadores em tempo integral.
Tadeu, sentado em um pufe, olhava para as anotações de Heron em um caderno. Ele era o braço direito, o cara que organizava a loucura do amigo e a transformava em dados concretos.
— Segundo os documentos históricos, a Ocean Blue pertencia a uma família de barões do café no século XIX. A lenda diz que ela não é apenas uma joia, mas um amuleto. Eles acreditavam que ela garantia a prosperidade de suas plantações — Tadeu leu em voz alta, a curiosidade genuína tomando conta de sua voz.
Heron, de pé em frente a um grande mapa do MASP, virou-se, com um sorriso de satisfação.
— Exato. Isso não muda nada pra gente, mas torna a joia ainda mais valiosa e lendária. E é por isso que a segurança é tão forte.
A pesquisa inicial revelou a dimensão do desafio. O MASP não era apenas um museu, mas uma fortaleza. Câmeras de alta resolução, sensores de movimento, alarmes silenciosos e uma equipe de segurança que se revezava 24 horas por dia. Os primeiros planos de Heron, que pareciam infalíveis no papel, se mostraram ingênuos.
— Ok, o plano de desativar os sensores de movimento no primeiro andar não vai funcionar. Eles estão conectados a um sistema independente — Tadeu apontou para uma parte do mapa com a caneta.
Heron suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Eu sei. Pensei que seria mais fácil. Mas é por isso que não vamos pela porta da frente. O problema não é a segurança. O problema são as pessoas por trás dela.
Ele andou até a mesa e pegou um tablet, deslizando a tela e mostrando a foto de uma mulher elegante, de cabelos escuros e olhar penetrante.
— Essa é Sabrina. Curadora de arte e uma das consultoras de segurança mais requisitadas para museus. Ela trabalhou na última revisão de segurança do MASP. Acredito que ela saiba tudo sobre o local.
Tadeu arregalou os olhos.
— Você quer que a gente roube informações dela? Cara, ela parece o tipo de pessoa que nos colocaria em um cubo de gelo só com o olhar.
Heron sorriu, um sorriso cheio de confiança que Tadeu já conhecia bem. O amigo era bonito, charmoso e, quando queria, conseguia fazer com que as pessoas confiassem nele. Ele era um cara especial, de verdade.
— Não vamos roubar nada, Tadeu. Vamos pedir. Eu tenho um plano. A gente se aproxima dela, finge que somos consultores de arte e precisamos de ajuda para um "projeto de segurança".
Tadeu balançou a cabeça, admirado com a audácia do amigo. Mesmo diante de tantos obstáculos, Heron não desistia. Ele apenas se adaptava, evoluía. A resiliência de Heron era a força motriz que os mantinha em movimento.
— E se ela não acreditar na gente? E se ela perceber que somos impostores?
Heron se aproximou de Tadeu e bateu levemente em seu ombro.
— É aí que você entra, meu amigo. Você é o cara que vai dar a credibilidade. O cara do "projeto". Juntos, somos melhores. O desafio é grande, mas a gente também é.
A conversa terminou ali, mas o desafio estava apenas começando. Eles não estavam apenas planejando um roubo, mas uma peça de teatro onde cada movimento precisava ser perfeito, e o palco era o próprio coração de São Paulo. E o primeiro ato, era se aproximar de Sabrina.
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