A fazenda Almeida vestiu-se de luto com a morte do Comendador. As grandes janelas da casa-grande foram cobertas por pesadas cortinas escuras, e o silêncio reinava entre os escravos, que, embora não chorassem pelo patrão severo, temiam pelo que viria a seguir. Isaura, mais do que ninguém, sabia que sua vida estava prestes a se tornar um inferno.
Leôncio agora era o senhor absoluto da propriedade. Sem a sombra do pai para freá-lo, ele estava livre para dar vazão a seus caprichos, e sua primeira obsessão era Isaura. Desde o dia em que assumiu a fazenda, passou a vigiá-la como um predador que cerca sua presa.
No começo, eram apenas olhares demorados, cheios de intenções ocultas. Depois, vieram os toques "acidentais", as palavras carregadas de malícia, os elogios que faziam a jovem estremecer de repulsa. Mas Leôncio não se contentava com pequenos avanços. Seu desejo era tomar Isaura para si, dobrá-la à sua vontade, e por isso fez questão de mostrar que ela não tinha para onde fugir.
Determinou que ninguém na fazenda poderia ajudá-la. Ordenou que não lhe dessem descanso, obrigando-a a realizar tarefas que antes jamais lhe haviam sido impostas. Impediu-a de se aproximar dos portões da fazenda e, para garantir que ela não tentasse escapar, passou a trancá-la em seu quarto todas as noites.
Isaura resistia como podia. Mantinha-se altiva, recusando-se a ceder às provocações do patrão, mas o medo crescia dentro dela a cada dia.
Joaquina, sua mãe adotiva, assistia a tudo com o coração angustiado. Conhecia bem a natureza de homens como Leôncio e temia pelo destino da jovem que criara como filha. Numa noite, enquanto a ajudava a lavar os poucos vestidos que ainda possuía, pegou-lhe as mãos delicadas e disse em voz baixa:
— Minha menina, não sei quanto tempo mais você vai aguentar… Esse homem é ruim, ele não desiste fácil.
Isaura sentiu um nó apertar sua garganta.
— Eu não sei o que fazer, mãe Joaquina. Se ao menos meu pai conseguisse minha alforria…
Joaquina olhou ao redor, certificando-se de que ninguém ouvia, e então sussurrou:
— O dinheiro está quase completo. Miguel esteve aqui ontem à noite, escondido, e me contou. Só falta um pouco mais.
O coração de Isaura disparou. Poderia ser verdade? Será que, enfim, a liberdade estava ao seu alcance?
Mas a esperança durou pouco. Na manhã seguinte, enquanto caminhava pelo jardim, sentiu a presença de Leôncio se aproximar. Ele parou à sua frente e sorriu de forma cruel.
— Tens andado muito pensativa, Isaura. Em que tanto sonhas?
Ela abaixou os olhos, tentando evitar o confronto, mas ele segurou seu queixo, forçando-a a encará-lo.
— Não adianta fugir de mim. Aqui, você é minha. E nunca será livre.
Aquelas palavras foram como um golpe. Isaura sentiu o desespero apertar seu peito. Se Miguel não conseguisse o restante do dinheiro a tempo, Leôncio teria o poder de decidir seu destino para sempre.
O perigo se aproximava a cada dia, e Isaura sabia que não poderia esperar muito mais. Se não encontrasse uma maneira de fugir logo, talvez nunca mais tivesse outra chance.