No dia seguinte ao culto, Gabriel acordou cedo, com as palavras do pastor Josué ainda pulsando em sua mente. Ele se sentia inquieto, como se algo o impulsionasse a sair de sua zona de conforto. Caminhando pelo bairro, percebeu coisas que antes não lhe chamavam a atenção: o senhor Samuel, um idoso que morava na casa da esquina, carregava sacolas pesadas de compras, enquanto Maria, uma jovem mãe solteira, tentava equilibrar um bebê no colo enquanto varria a calçada.
Gabriel parou por um momento, observando a cena de Samuel. Ele tomou coragem e se aproximou.
— Seu Samuel, o senhor precisa de ajuda? — perguntou, com um sorriso tímido.
O idoso levantou o olhar, surpreso, e respondeu com uma risada leve:
— Ah, rapaz, eu tô velho, mas ainda dou conta dessas sacolas.
— Mesmo assim, deixa que eu ajudo. É rapidinho — insistiu Gabriel, pegando as sacolas antes que Samuel pudesse protestar.
Enquanto caminhavam até a casa do idoso, Samuel começou a conversar:
— Obrigado, Gabriel, não te vejo há um bom tempo. Como vai sua mãe?
— Vai bem, seu Samuel. E o senhor, como tem passado?
— Ah, vou levando. Sabe como é, a idade pesa, mas a gente segue. Esses jovens de hoje não têm muito tempo pra velhos como eu, mas fico feliz que ainda existam exceções — disse ele, sorrindo.
Ao deixá-lo em casa, Gabriel percebeu que Samuel parecia mais leve, não só pelas sacolas, mas pelo breve momento de atenção e conversa. Ele despediu-se e seguiu pela rua.
Pouco depois, encontrou Maria tentando acalmar o bebê que chorava enquanto varria a calçada. Gabriel hesitou por um momento, mas lembrou-se do sermão: “Amar é agir.”
— Maria, quer que eu termine de varrer? Você parece ocupada com o neném.
Maria olhou para ele, surpresa.
— Sério? Ah, Gabriel, eu agradeço. A pequena Ana não me dá sossego.
Gabriel pegou a vassoura e começou a trabalhar.
— Como você tá, Maria? Precisa de mais alguma coisa? — perguntou, enquanto varria.
— Tô indo, sabe? Mas é difícil. Sem o pai da Ana por perto, tudo sobra pra mim. Às vezes, acho que não vou dar conta.
— Olha, se precisar de ajuda, é só chamar. Nem que seja pra fazer companhia — disse ele, sincero.
Ao terminar, Maria sorriu.
— Obrigada, Gabriel. Você nem sabe o quanto isso significa pra mim.
Gabriel voltou para casa com o coração leve. Ele não havia feito grandes coisas, mas percebeu que gestos simples podiam ser um alívio para quem precisava. Ele lembrou-se de um trecho da Bíblia que o pastor Josué mencionara: "Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito."
No fim do dia, Gabriel sentou-se na varanda de casa, refletindo. Ele sentia uma alegria diferente, algo que nunca experimentara antes. Ao colocar os ensinamentos de Jesus em prática, não apenas ajudava os outros, mas também sentia que sua própria vida começava a ganhar sentido.
Ele sabia que aquilo era apenas o começo, mas estava disposto a dar mais passos, por menores que fossem. A bondade, ele percebeu, não era um fardo, mas uma luz que iluminava tanto quem a recebia quanto quem a praticava.