As semanas que se seguiram à festa foram envoltas em um silêncio pesado. A euforia daquela noite se esvaiu, deixando para trás um vazio inquietante. Ana Júlia se transformou. A risada fácil deu lugar a um olhar distante, e a vivacidade que a definia desapareceu. Ela passava os intervalos sozinha, no canto da sala, com fones de ouvido que não tocavam música alguma, apenas a isolavam do mundo. A preocupação de Ana Catarina e Ana Beatriz crescia a cada dia.
— A gente precisa conversar com ela, Cat — disse Ana Beatriz, observando a amiga de longe. — Ela nem parece a mesma pessoa.
— Eu sei, Bê. Tentei falar com ela ontem, mas ela me ignorou — respondeu Ana Catarina, com uma expressão de frustração.
Certa tarde, no intervalo, Ana Catarina decidiu ir até o pátio, onde Ana Júlia estava sentada em um banco, desenhando círculos no chão com a ponta do tênis. Ana Beatriz a seguiu.
— Júlia, a gente pode conversar? — perguntou Ana Catarina, sentando-se ao lado da amiga.
— Eu já disse, Cat, não é nada. Só estou cansada — respondeu Ana Júlia, sem levantar a cabeça.
— Cansada? Você está estranha desde aquela festa. Se for por causa do Ricardo, é só um garoto, não precisa se preocupar com ele — disse Ana Beatriz, sentando-se do outro lado.
Ana Júlia finalmente levantou o olhar. Ele estava marejado, e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto.
— Não é o Ricardo... é outra coisa. — ela sussurrou, a voz quase inaudível.
Com as mãos trêmulas, Ana Júlia abriu a mochila e tirou um pequeno objeto embrulhado em um lenço de papel. Era um teste de gravidez, com duas listras vermelhas bem nítidas. O resultado era inquestionável: positivo. O tempo pareceu parar. O barulho do pátio, a conversa de outros alunos, tudo se tornou um barulho distante. O mundo das três amigas se resumiu àquele pequeno teste. Elas, que tanto falavam sobre a importância da camisinha, que tanto se sentiam maduras por serem abertas sobre o tema, estavam agora diante de uma realidade avassaladora. O choque foi tão grande que a única reação possível foi o silêncio.
Foi Ana Beatriz, a mais pragmática das três, quem quebrou o silêncio.
— Júlia, você tem que contar para os seus pais. Eles precisam saber.
A frase agiu como um gatilho para o desespero de Ana Júlia.
— Eu não posso! Meu pai me mata! Você não entende, Bê. A vida dele é a política, a minha vida é um projeto para ele. Ele não pode ter uma filha grávida! — Ana Júlia disse, desabando em prantos.
Ana Catarina, com lágrimas nos olhos, abraçou a amiga.
— A gente está com você, Júlia. O que for que aconteça, a gente está com você.
A solidariedade das amigas podia parecer suficiente, mas a montanha-russa de emoções estava apenas começando. O silêncio perturbador se transformou em medo, e o medo, em uma necessidade urgente de encontrar uma solução para um problema que, para elas, parecia não ter saída.