Quando as chamas finalmente se apagaram, restaram no pátio do canil dezenas de animais assustados e sujos de fuligem. Rodrigo observava ao lado de Camila, uma voluntária que havia ajudado no resgate.
— E agora? — perguntou ele, olhando para um grupo de cães encolhidos num canto.
— Alguns vão para lares temporários, mas ainda não temos espaço para todos — respondeu Camila, suspirando. — Vai levar dias até o canil estar pronto de novo.
Rodrigo olhou para cinco cães que havia carregado nos braços durante o incêndio: um vira-lata preto de olhar sereno, uma cadela branca mancando, um filhote marrom de orelhas enormes e dois cães de porte médio, magros e com o olhar desconfiado. O pensamento veio rápido, quase sem refletir.
— Eu posso levar eles pra minha casa — disse, firme.
Marcos, um vizinho que também ajudava, riu de leve.
— Cinco de uma vez? Você é corajoso, garoto.
Quando chegou em casa, a mãe estava na porta, braços cruzados.
— Rodrigo, o que é isso? — perguntou, olhando para a pequena “caravana” que vinha atrás dele.
— Mãe, eles não têm pra onde ir. É só por alguns dias, até arrumarem adoção. Eu prometo cuidar de tudo.
Ela suspirou, ainda insegura.
— Você sabe que vai ser trabalho, não é? Alimentar, limpar, dar atenção...
— Sei. E eu vou fazer. — O tom de Rodrigo mostrava que não havia volta.
No quintal, ele improvisou caminhas usando caixas de papelão e velhos cobertores que Dona Elvira, a vizinha da frente, trouxe de casa.
— Aqui, menino. Eles vão ficar mais quentinhos assim.
Enquanto colocava água e um pouco de ração para cada um, Rodrigo percebeu que, apesar do cheiro de fumaça ainda grudado no pelo, aqueles animais olhavam para ele com um misto de medo e esperança. E, no fundo, ele sabia que a responsabilidade que assumira era muito maior do que imaginava.
