
Após ingressar na Companhia de Jesus em 1958, Jorge Mario Bergoglio mergulhou de cabeça na formação jesuíta, um caminho que exigia dedicação intensa à espiritualidade, ao estudo e ao serviço. Os jesuítas, conhecidos por sua abordagem intelectual e compromisso com a justiça social, moldaram profundamente o jovem argentino. Durante o noviciado, em Córdoba, ele passou por um período de reflexão e aprendizado, estudando humanidades, línguas como latim e grego, e aprofundando-se na espiritualidade inaciana, baseada nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. Jorge se destacava não só pelo empenho nos estudos, mas também pela humildade com que realizava tarefas simples, como limpar o seminário ou cozinhar para os colegas. Sua capacidade de rir de si mesmo e de ouvir os outros com atenção logo o tornou querido entre os companheiros.
Em 1960, Jorge fez seus primeiros votos como jesuíta, comprometendo-se à pobreza, castidade e obediência. Nos anos seguintes, continuou sua formação, estudando filosofia no Colégio Máximo de San Miguel, onde também começou a lecionar literatura e psicologia para jovens seminaristas. Ele adorava ensinar e tinha um jeito especial de conectar ideias complexas com a vida cotidiana, usando histórias e exemplos que tocavam o coração de seus alunos. Entre 1964 e 1965, trabalhou como professor em Santa Fé, no Colégio da Imaculada Conceição, onde conquistou os estudantes com sua simplicidade e entusiasmo. Mesmo jovem, ele já mostrava uma habilidade natural para liderar, mas sempre com um toque de ternura, como quando parava para conversar com os funcionários da escola ou ajudar os mais pobres da comunidade.
Jorge foi ordenado padre em 13 de dezembro de 1969, aos 33 anos, após completar seus estudos de teologia. A ordenação foi um momento de grande alegria, mas também de responsabilidade, pois ele sabia que sua missão seria servir aos outros, especialmente aos mais necessitados. Nos anos 1970, assumiu papéis de liderança dentro da Companhia de Jesus, tornando-se mestre de noviços e, em 1973, provincial dos jesuítas na Argentina, cargo que ocupou até 1979. Essa foi uma época desafiadora, marcada pela ditadura militar no país (1976-1983), que trouxe violência e divisões. Como líder, Jorge trabalhou para proteger os jesuítas e suas comunidades, promovendo um equilíbrio entre a prudência e o compromisso com a justiça social. Ele incentivava projetos em bairros pobres, como escolas e cozinhas comunitárias, e visitava favelas para estar perto das pessoas, ouvindo suas dores e esperanças. Sua postura firme, mas compassiva, nem sempre era compreendida por todos, mas refletia sua crença em uma Igreja que caminha com o povo.
Após deixar o cargo de provincial, Jorge passou por um período de reflexão e serviço mais silencioso, incluindo um tempo na Alemanha, onde estudou teologia, e na Irlanda, onde aprimorou seu inglês. Em 1986, voltou à Argentina e continuou seu trabalho como professor e diretor espiritual, sempre focado em formar jovens com valores humanos e cristãos. Sua vida mudou novamente em 1992, quando foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires. Em 1998, tornou-se arcebispo da cidade, uma posição de grande responsabilidade. Como arcebispo, Jorge chocou muitos por sua simplicidade: recusou morar no palácio arquidiocesano, optando por um apartamento pequeno, cozinhava suas próprias refeições e usava transporte público para se locomover. Ele visitava regularmente as periferias, celebrava missas em favelas e lavava os pés de prisioneiros e doentes, gestos que mostravam sua visão de uma Igreja próxima dos mais vulneráveis.
Durante seu tempo como arcebispo, Jorge também ganhou destaque internacional. Em 2001, foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II, o que o colocou em um círculo mais amplo de líderes da Igreja. Ele participou de encontros no Vaticano, mas nunca perdeu sua essência humilde. Em Roma, preferia hotéis simples e carregava sua própria mala. Sua reputação como pastor dedicado e defensor dos pobres crescia, mas ele continuava sendo o mesmo homem que parava para tomar mate com os fiéis ou conversar com os porteiros de sua diocese. Jorge também se envolveu em questões sociais, criticando a desigualdade e a corrupção, mas sempre com um tom de esperança, convidando as pessoas a construir uma sociedade mais justa.
Essa trajetória como jesuíta, padre, bispo e cardeal foi marcada por uma coerência impressionante: em cada etapa, Jorge Bergoglio escolheu viver com simplicidade, ouvir os outros e colocar os mais pobres no centro de sua missão. Ele enfrentou desafios, como as tensões da ditadura e as responsabilidades de liderança, com coragem e fé. Sua proximidade com as pessoas e seu compromisso com a justiça social o prepararam para um chamado ainda maior, que ele nem imaginava estar por vir. Esses anos de formação e serviço foram como um alicerce sólido, construindo o homem que, anos depois, surpreenderia o mundo com seu jeito único de liderar a Igreja.