Capítulo 2 – A vizinha e a casa

O sol ainda nem tinha alcançado o topo das árvores quando Elisa ouviu batidas leves no portão. Secou as mãos no avental e, ao abrir, encontrou uma mulher de cabelos grisalhos bem presos e expressão atenta.

— Bom dia. Você deve ser a nova moradora — disse a desconhecida, com um sorriso contido. — Sou Júlia Almeida. Moro logo ali, na casa amarela do fim da rua.

— Bom dia, Júlia. Sou Elisa. — Ela estendeu a mão, sentindo o aperto firme da vizinha. — Ainda estou me adaptando… tudo aqui é novo para mim.

Júlia observou a fachada da casa com um olhar que misturava curiosidade e preocupação.

— Essa casa… já viu muita coisa — comentou, como se falasse mais para si do que para Elisa. — Só um conselho: não mexa com o que não vê.

Elisa franziu as sobrancelhas.

— O que quer dizer com isso?

— É só… um modo de falar. — Júlia desviou o olhar, evitando aprofundar o assunto. — Seja bem-vinda ao bairro. Se precisar de algo, estarei por perto.

A vizinha se despediu, deixando Elisa com uma sensação estranha, como se houvesse mais coisas não ditas do que faladas.

Durante o resto do dia, ela tentou se distrair organizando a cozinha, mas a lembrança da conversa voltava em flashes. Ao pegar um copo no armário, notou que alguns talheres estavam em outra gaveta, não lembrava de tê-los colocado ali.

À noite, as mensagens voltaram. A primeira chegou enquanto ela lia na sala:

"Elisa."

O estômago dela revirou. Não havia se apresentado a ninguém além de Wellyton e Júlia. Respondeu, com dedos trêmulos:

"Quem é você?"

A resposta veio imediata:

"Estou ouvindo você agora."

O ar pareceu mais pesado. Ela levantou, apagou as luzes e foi para o quarto. Antes de dormir, deixou o celular na mesa de cabeceira, mas acordou no meio da madrugada com uma sensação incômoda. A luz fraca da tela iluminava o cômodo. Havia outra mensagem:

"Gostei do seu quarto novo."

Assustada, levantou-se para verificar as portas e janelas. Tudo estava trancado. Voltou para a cama, mas não conseguiu pregar os olhos. O som de um objeto caindo parecia ter saído da sala. Quando foi ver, encontrou um porta-retrato virado no chão — o mesmo que tinha deixado em cima da estante horas antes.

O silêncio que se seguiu era tão profundo que qualquer ruído pareceria um grito. Elisa sabia que, a partir dali, esquecer o assunto não seria mais uma opção. Alguma coisa estava errada.