Dentro de casa, eu também não encontrava abrigo. Pelo contrário, era como se ali as paredes amplificassem o que eu mais temia: a certeza de que eu não era importante.
Lembro do dia em que descobri que minha irmã, Mércia, falou mal de mim no grupo da família. Eu li as mensagens escondido, sem que ninguém soubesse. Ela dizia que eu era preguiçoso, que não ajudava em nada, que eu só atrapalhava. O que me doeu não foi apenas o que ela disse, mas o silêncio que veio depois. Todos leram. Ninguém me defendeu. Nenhuma palavra em contrário. Como se o que ela tivesse escrito fosse uma verdade absoluta.
A partir dali, passei a enxergar meus pais de outra forma. Eles não brigavam comigo, não reclamavam muito, mas também não se importavam. Se eu estava trancado no quarto por horas, não perguntavam nada. Se eu saía, nem notavam. Eles estavam ocupados demais com suas próprias rotinas, preocupados com trabalho, contas e coisas práticas. E eu, no meio disso, parecia ser apenas mais uma tarefa que eles não tinham paciência de lidar.
Era estranho: eu estava cercado por pessoas, mas me sentia completamente sozinho. A casa tinha barulho, tinha conversa, mas para mim sobrava apenas silêncio. Um silêncio pesado, daqueles que esmagam por dentro. Eu sentia que minha presença não fazia diferença alguma. Que se eu não estivesse ali, a vida deles continuaria exatamente do mesmo jeito.
Dentro de mim, essa sensação foi crescendo: eu era um peso. Um fardo que ninguém queria carregar, mas que todos fingiam tolerar. E quando percebi isso, entendi que não era só nas ruas ou nos grupos de amigos que eu estava invisível. Até dentro da minha própria casa, eu não existia de verdade.
