Viver nos anos 80 era habitar um universo vibrante, onde tudo parecia mais colorido, mais exagerado e, ao mesmo tempo, mais divertido. Foi a década da ousadia visual, da mistura de estilos, da chegada do videoclipe e da consolidação da cultura pop como força dominante. O Brasil enfrentava o fim da ditadura e vivia a redemocratização, o que refletia diretamente na liberdade artística e no comportamento social. Se os anos 70 foram de resistência sutil, os 80 abriram espaço para a expressão sem freio — nas roupas, na música, na televisão e até nos modos de se alimentar.
Na moda, o lema era “quanto mais, melhor”. Ombreiras enormes, tecidos metálicos, brilhos, leggings coloridas e cortes geométricos tomavam conta das ruas e das festas. Os cabelos seguiam a mesma lógica: quanto mais volume, mais estilo. Spray fixador era item indispensável, assim como os acessórios chamativos e os visuais inspirados em artistas como Madonna e Cyndi Lauper. O jeans desbotado, os tênis de cano alto e as jaquetas de couro faziam parte do figurino urbano, enquanto as camisas estampadas e os penteados platinados dominavam os videoclipes.
A alimentação também passou por transformações. Com o crescimento da vida urbana e a inserção maior das mulheres no mercado de trabalho, os produtos congelados e industrializados se tornaram aliados do dia a dia. Lasanhas de micro-ondas, nuggets, refrigerantes famosos e cereais matinais ganharam espaço nas mesas, enquanto o fast food crescia como sinônimo de praticidade. Ainda assim, o almoço de domingo com arroz, feijão, macarronada e frango assado resistia como ritual familiar.
Os adolescentes dos anos 80 viveram um verdadeiro boom cultural. Eles gravavam fitas cassete para presentear amigos e amores, passavam horas em fliperamas e descobriam as emoções da adolescência assistindo a séries como Anos Incríveis e Sessão da Tarde, que fazia sucesso com seus filmes sobre amizade, aventura e primeiros amores. Era também o auge dos programas infantis diários, como Xou da Xuxa e Balão Mágico, que marcaram a infância de toda uma geração. No campo musical, o rock nacional florescia com Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Titãs, enquanto o pop internacional era liderado por Michael Jackson, Prince e Madonna. A chegada da MTV ao Brasil, no final da década, transformou a música em espetáculo visual e lançou ídolos adolescentes com força inédita.
Os adultos se rendiam ao videocassete, que revolucionou o consumo de entretenimento. Gravar novelas, assistir a filmes no horário desejado e até rebobinar uma cena se tornaram novidades empolgantes. Novelas como Vale Tudo, Roque Santeiro e Tieta dominaram as conversas do trabalho, enquanto o jornalismo ganhava um novo ritmo com programas mais ágeis e visuais. No cinema, os clássicos de Hollywood invadiam as salas brasileiras com efeitos especiais que encantavam plateias: ET, Os Caça-Fantasmas, De Volta para o Futuro e tantos outros filmes marcaram não só a década, mas se tornaram parte do imaginário coletivo.
Os anos 80 foram, enfim, a década da criatividade sem medo. Tudo podia ser testado: um novo penteado, uma gíria inventada, um gênero musical, um programa de TV. Era uma era de descobertas, de formação de identidade e de olhar para o futuro com brilho nos olhos — às vezes literalmente, já que até os lábios e as sombras dos olhos vinham com glitter. Era o tempo da fita cassete gravada com carinho, da televisão como melhor amiga e do exagero como sinônimo de autenticidade.