A urgência as empurrou para a realidade. Naquela mesma tarde, as três amigas se dirigiram a uma clínica particular no centro da cidade. A fachada moderna da Clínica Esperança não diminuiu a tensão que se instalou entre elas. Elas se sentaram na sala de espera, cada uma mergulhada em seus próprios pensamentos.
Ana Júlia, pálida e com as mãos suando frio, mal conseguia segurar a revista que pegara para disfarçar o nervosismo. Ana Catarina e Ana Beatriz trocavam olhares de preocupação, tentando transmitir segurança.
— E agora? O que a gente faz? — Ana Catarina sussurrou, a voz carregada de ansiedade.
— Eu não sei... Minha vida acabou, Cat. — respondeu Ana Júlia, com a voz embargada pelo choro que segurava. — Meu pai... a reputação dele, a política, tudo. Eu não posso decepcioná-lo.
Ana Beatriz segurou a mão de Ana Júlia com firmeza.
— Não importa o que aconteça, a gente está com você. — garantiu. — A gente vai te ajudar a enfrentar isso.
O silêncio voltou a reinar, interrompido apenas pelo som abafado da televisão ligada na recepção. A espera parecia uma eternidade. Finalmente, uma enfermeira chamou o nome de Ana Júlia, e as três se levantaram juntas, como uma equipe inabalável.
No consultório, a Dra. Camila as recebeu com um sorriso acolhedor, mas seus olhos transmitiam uma seriedade que não aliviou o nervosismo das garotas. A médica explicou que um exame de sangue era o mais confiável para confirmar o diagnóstico. Ana Júlia estendeu o braço trêmulo para a coleta, enquanto Ana Catarina e Ana Beatriz seguravam a sua mão. O medo tinha um nome, e o exame de sangue o confirmaria ou o negaria.
Quando o resultado chegou, a Dra. Camila as chamou de volta à sala. A expressão dela, séria e compassiva, já dizia tudo. A médica entregou o exame a Ana Júlia, que mal conseguiu segurar o papel.
— O resultado é positivo. Você está grávida, Ana Júlia. — disse a Dra. Camila, com uma voz suave.
A notícia caiu sobre as três como uma bomba. As lágrimas que Ana Júlia tanto segurara vieram com força, e o soluço de Ana Catarina se juntou ao choro da amiga. Ana Beatriz, embora sem chorar, sentiu uma dor profunda. A realidade do que estava acontecendo as atingiu com força total.
A Dra. Camila esperou que o desespero inicial passasse antes de se dirigir a elas novamente.
— Eu sei que essa notícia é devastadora. Mas eu quero que vocês saibam que a gravidez é uma consequência que poderia ter sido evitada. O uso de camisinha é crucial, não só para evitar uma gravidez, mas também para proteger vocês de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). — a médica disse, apontando para o panfleto que estava na mesa. — Essa é uma responsabilidade de vocês, de todos os jovens. A falta de informação é um risco que vocês não precisam correr.
Com a voz calma, a Dra. Camila explicou que estava ali para o que precisassem e as incentivou a conversar com os pais. Mas, para Ana Júlia, aquela conversa parecia ser a parte mais difícil. Elas saíram do consultório mais juntas do que nunca, com um peso maior sobre os ombros, mas também com a certeza de que teriam que encontrar uma saída para a situação.