
Em 13 de março de 2013, o mundo assistiu com surpresa à fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina, sinalizando a eleição de um novo papa. Jorge Mario Bergoglio, então cardeal-arcebispo de Buenos Aires, foi escolhido como o 266º pontífice da Igreja Católica, aos 76 anos. Ele adotou o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, o santo da humildade, da paz e do cuidado com a criação. Sua eleição marcou dois feitos históricos: ele se tornou o primeiro papa jesuíta e o primeiro vindo da América Latina, trazendo uma nova perspectiva para a liderança da Igreja. Quando apareceu na varanda da Basílica de São Pedro, pediu que os fiéis orassem por ele antes de dar sua bênção, um gesto simples que revelou sua humildade e conquistou corações imediatamente.
Desde o início, Papa Francisco rompeu com tradições. Ele recusou morar no luxuoso Apartamento Pontifício do Vaticano, optando por uma residência mais simples na Casa Santa Marta, onde vive com outros padres e funcionários. Vestia-se com simplicidade, mantendo a cruz de ferro de seus tempos de bispo e usando sapatos pretos gastos em vez dos tradicionais sapatos vermelhos papais. Seus primeiros dias como papa foram marcados por gestos espontâneos, como pagar pessoalmente a conta do hotel onde ficou durante o conclave e abraçar pessoas comuns durante audiências públicas. Esses atos refletiam sua visão de uma Igreja mais próxima do povo, menos focada em formalidades e mais voltada para o amor e a compaixão.
O papado de Francisco foi definido por sua ênfase na misericórdia e na inclusão. Ele falava frequentemente sobre a necessidade de a Igreja ser como um “hospital de campanha”, acolhendo os feridos da vida – os pobres, os marginalizados, os pecadores. Em 2013, publicou sua primeira exortação apostólica, Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), onde criticou a desigualdade econômica e chamou os católicos a viverem a fé com alegria e serviço. Suas palavras, como “quem sou eu para julgar?”, ditas sobre a acolhida a pessoas homossexuais, mostraram um tom de abertura que contrastava com posturas mais rígidas de papas anteriores. Ele também promoveu reformas na Cúria Romana, buscando mais transparência e eficiência, embora enfrentasse resistências de setores conservadores dentro da Igreja.
Francisco colocou a justiça social e o cuidado com o meio ambiente no centro de seu pontificado. Em 2015, lançou a encíclica Laudato Si’ (Louvado Seja), um documento poderoso que conectava a fé cristã à proteção da “casa comum”, alertando sobre as mudanças climáticas e a exploração dos recursos naturais. Ele viajava incansavelmente, visitando países pobres e regiões de conflito, como o Sudão do Sul, o Iraque e a ilha de Lesbos, onde se encontrou com refugiados. Em cada viagem, deixava mensagens de esperança, como quando lavou os pés de muçulmanos e hindus em um centro de refugiados ou abraçou vítimas de desastres naturais. Suas ações inspiravam milhões, mas também geravam críticas de grupos que o achavam muito progressista ou pouco firme em questões doutrinárias.
O papa também se dedicou a causas humanitárias e ao diálogo inter-religioso. Em 2019, assinou o Documento sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi, com o grande imã de Al-Azhar, promovendo a paz entre cristãos e muçulmanos. Ele defendia a dignidade dos migrantes, chamando a atenção para as tragédias no Mediterrâneo, e condenava a indiferença diante do sofrimento alheio. Em Roma, mantinha uma rotina intensa, celebrando missas diárias na Casa Santa Marta, onde suas homilias curtas e diretas tocavam os fiéis com exemplos simples, como a importância de perdoar ou de ajudar um vizinho. Ele fazia questão de estar perto das pessoas, parando para conversar com crianças, idosos e doentes durante suas saídas.
Apesar de sua popularidade, Francisco enfrentou desafios. Alguns setores da Igreja o acusavam de diluir a doutrina católica, enquanto outros o viam como lento nas reformas prometidas, como o combate aos abusos sexuais clericais. Ele criou comissões para investigar esses casos e encontrou vítimas, mas o tema permaneceu complexo. Ainda assim, sua autenticidade e proximidade continuavam atraindo multidões. Seus encontros com jovens, como na Jornada Mundial da Juventude, eram momentos de festa, onde ele os incentivava a “fazer barulho” pela fé e pela justiça. Francisco trouxe um novo fôlego à Igreja, mostrando que um líder espiritual podia ser ao mesmo tempo profundo e acessível, falando ao coração de católicos e não católicos em todo o mundo.