Os dias seguintes mergulharam a casa em um caos sutil, mas crescente. A atividade paranormal intensificou-se, tornando a convivência insuportável. Portas se trancavam sozinhas com um clique seco, exigindo chaves que Maria Joana jurava ter deixado na mesinha. As luzes piscavam incessantemente, transformando a sala em um inferno estroboscópico até queimarem por completo.
Miguel tentava manter a fachada de calma, mas seu nervosismo era evidente. Ele andava pela casa com o maxilar travado, chutando o chão, procurando desesperadamente por um curto-circuito ou uma falha na fiação.
— Isso é elétrica, Maria Joana! É uma casa antiga! Vamos chamar um eletricista! — ele insistia, com a voz um tom mais alto do que o necessário.
Maria Joana sabia que não era a fiação. O terror dela se concentrava em um ponto específico: a sala de estar. No centro do piso de madeira, surgia diariamente uma mancha escura e úmida, como se algo tivesse vazado. Eles a limpavam com desinfetante e esfregavam até a madeira secar, mas no dia seguinte, ela estava lá novamente, sempre no mesmo lugar.
Enquanto tentava fotografar a mancha com o celular, uma nova mensagem surgiu na tela. O tom era agora de desespero e angústia pura.
— Eu sei que você está me ouvindo! Ajude-me! O frio está me congelando!
Um arrepio gélido percorreu Maria Joana, não apenas pela mensagem, mas pela queda brusca de temperatura na sala. Ela se encolheu, sentindo um frio que parecia vir de dentro do chão.
Determinada, Maria Joana voltou à sua pesquisa. Ela precisava de mais do que o nome de Elisa. Ela vasculhou bibliotecas virtuais e arquivos forenses. Finalmente, em um arquivo digital de um jornal datado de décadas atrás, ela encontrou um artigo mais detalhado sobre o desaparecimento. A matéria detalhava que o corpo de Elisa nunca foi encontrado e, mais importante, mencionava rumores entre os vizinhos de que havia uma entrada secreta na casa, um cômodo que não constava na planta oficial.
Armada com a prova que precisava, ela confrontou Miguel.
— Você disse que era trote, Miguel, mas não é. Essa casa pertenceu a Elisa, e ela desapareceu aqui. E olha isso — Maria Joana colocou o jornal e a planta da casa lado a lado. — Eles dizem que havia um lugar secreto, um esconderijo.
Miguel examinou os documentos, o rosto pálido. O ceticismo deu lugar a um medo profundo e inegável.
— Onde... onde você acha que pode estar? — ele perguntou, a voz quase um sussurro.
A discussão levou o casal a uma busca tensa por toda a casa. Eles batiam nas paredes, checavam armários embutidos e até reviraram o sótão, mas nada. Exaustos e frustrados, voltaram para a sala de estar.
— Não há nada aqui, Joana. Talvez os rumores estivessem errados — Miguel tentou, mas sem convicção.
Maria Joana ignorou-o e se ajoelhou exatamente sobre a mancha úmida. Ela tocou o local. O frio emanava dali como um respirador.
— O porão não está na casa inteira, Miguel. Está aqui. É aqui que ela está pedindo para ser liberta.
Eles examinaram o local de perto, tirando o tapete e pressionando as tábuas do assoalho, mas o piso de madeira parecia sólido e uniforme. No entanto, enquanto eles procuravam, Maria Joana sentiu as tábuas sob a mancha escura vibrando levemente, como se algo estivesse se movendo debaixo de seus pés. O porão, ela percebeu, estava escondido, mas estava esperando por ela.
