Capítulo 3 - A Fuga e a Nova Vida

 A noite estava escura quando Isaura deixou a fazenda Almeida para trás. O vento frio chicoteava seu rosto, mas ela não se deteve. Cada passo era uma vitória, cada batida do coração, uma prece silenciosa por liberdade. Seu pai, Miguel, a guiava pelas trilhas ocultas da mata, conduzindo-a para longe daquele lugar onde vivera tantos anos como escrava.

Joaquina, com lágrimas nos olhos, ajudara a preparar a fuga. Pouco antes da meia-noite, entregara a Isaura um vestido simples, um pequeno embrulho com pão e queijo e um beijo de despedida.

— Vá, minha menina, e nunca mais olhe para trás.

Agora, ao lado do pai, Isaura sentia o coração dividido entre a dor da despedida e a esperança de um novo começo. Miguel, um homem de mãos calejadas pelo trabalho duro, fizera de tudo para juntar o dinheiro da alforria, mas Leôncio recusara a oferta. Se não podia tê-la, ele preferia vê-la acorrentada. A única saída era fugir.

Após dias de viagem escondidos entre povoados, alcançaram uma cidade distante, onde ninguém conhecia Isaura. Lá, seu pai conseguiu trabalho como hortelão, e ela passou a viver como uma mulher livre. Assumiu um novo nome, vestiu-se como uma dama e começou a reconstruir sua vida. Pela primeira vez, podia andar pelas ruas sem o peso da escravidão sobre os ombros.

Foi nesse novo mundo que conheceu Álvaro.

Filho de uma família abastada, Álvaro era um jovem de espírito nobre, apaixonado pelos ideais de liberdade. Desprezava a escravidão e sonhava com um Brasil onde todos fossem iguais. Isaura o conheceu em uma praça, onde ele discursava sobre a necessidade de abolir a servidão. Seus olhos brilhavam com fervor, e sua voz era firme e persuasiva.

Ela ficou fascinada. Nunca ouvira um homem falar assim.

Álvaro, por sua vez, encantou-se à primeira vista. A beleza de Isaura era delicada, mas havia algo mais nela que o atraía: um mistério, uma tristeza oculta por trás daquele olhar doce. Ele se aproximou e, aos poucos, a conquistou com sua gentileza e inteligência.

Isaura sentia-se dividida. O coração acelerava quando Álvaro a olhava, mas o medo ainda estava lá. E se ele descobrisse a verdade? E se soubesse que ela era uma escrava fugitiva?

Porém, pela primeira vez, Isaura ousava sonhar. Talvez, ao lado de Álvaro, pudesse finalmente ter a vida digna que sempre desejou. Talvez, enfim, estivesse livre.

Mas Leôncio ainda existia. E ele nunca desistiria de encontrá-la.