Capítulo 3 - La luz de la Mariposa Monarca


CAPÍTULO 3


 Era o dia 2 de Novembro. O sol irrompia sobre Oaxaca, e o ar estava carregado com o mistério e a alegria do Dia de Muertos. Rosa vestiu sua roupa mais colorida, deu um beijo rápido no filho silencioso e saiu para a procissão, levando a saudade de Doña Elena na manga e a preocupação por Pablo no coração.

Pablo permaneceu em sua oficina. Estava exausto pela noite de trabalho, mas seus olhos não se desviavam do dragão de três cabeças. A escultura estava finalizada, mas nu: a madeira copal crua era um reflexo sombrio e perfeito de sua dor.

De repente, a escuridão da oficina foi sutilmente interrompida. Uma mariposa monarca, com suas asas alaranjadas e pretas, planou e pousou com a leveza de um sopro no focinho da cabeça central do dragão. O inseto, símbolo das almas que regressam do norte, era a única mancha de cor e vida naquele ambiente.

Pablo observou a mariposa. Ele sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, como se uma mão fria o tocasse. Aquele não era um bicho qualquer; era um sinal. Sentiu-se estranhamente compelido, como se a mariposa o estivesse chamando. Ele pegou o alebrije cinzento, sentindo que ao segurá-lo, o peso da tristeza lhe escapava.

— Voy al Zócalo, — ele murmurou para a mariposa, que levantou voo. — Voy a ver si esta cosa, por fin, tiene algún significado.

Com a escultura sob o braço, Pablo caminhou pelas ruas cheias. Ao passar pelo agitado mercado, com suas cores e sons estridentes, sua atenção se desviou. De repente, esbarrou em alguém que carregava um monte de flores. O dragão de três cabeças escorregou e caiu no chão de paralelepípedos com um baque seco.

— ¡Ay, lo siento mucho, caballero! — exclamou Isabel, a vendedora de cempasúchil, abaixando-se para ver os danos. Ela tinha os olhos grandes, cheios de energia. — Déjame ayudarte... ¡Ay, mira! ¡Qué bonito tallado! Es una pena la ala.

Uma das asas do dragão havia se quebrado.

Pablo, normalmente irritadiço e reservado, sentiu uma surpreendente calma. A quebra não o atingiu com a raiva esperada. Olhando para a alebrije e para o rosto preocupado de Isabel, ele apenas encolheu os ombros.

— No importa, señorita. Ya estaba vacío antes de caerse — disse ele. Num impulso inesperado, ele estendeu a escultura incompleta para Isabel. — Llévalo. Es de mala suerte, tal vez te ayude a equilibrar la tuya.

Isabel ficou confusa e emocionada com a generosidade repentina do estranho melancólico.

— ¡Oh, no, no podría...! — ela hesitou.

— Tómalo. De verdad. — insistiu Pablo, e se afastou apressadamente, sentindo-se um pouco mais leve do que antes.

Isabel segurou o dragão de três cabeças contra o peito, observando as costas de Pablo se afastando. O alebrije era belíssimo, mesmo incompleto. Ela sorriu.

— Gracias, caballero. — Ela olhou para a escultura, depois para seu posto de flores. — Bueno, abuelo. Parece que tenemos una nueva decoración. Usaré esto en tu ofrenda para ver si nos traes un milagro. ¡A ver si esta "mala suerte" nos trae dinero para ese vocho! — disse ela, voltando ao trabalho com um novo, se bem que confuso, otimismo.