Capítulo 3: O Fim e a Dor

 O fim de um relacionamento é como bater o carro em câmera lenta. Você vê que o desastre está vindo, mas não consegue desviar a tempo. E foi exatamente assim que eu me senti quando Antonela saiu da minha vida de vez. Aquele momento em que tudo se parte, mas ainda parece irreal. Eu sabia que as coisas não estavam boas há um tempo, mas nunca estamos realmente prontos para o impacto.

Nos primeiros dias depois que ela foi embora, a oficina parecia mais vazia. O som dos motores, das ferramentas batendo no metal, não conseguiam preencher o silêncio dentro de mim. Tudo ao redor continuava como sempre, mas por dentro eu me sentia desmoronando. Me pegava questionando a todo momento: "Onde foi que eu errei?"

Revivia nossas conversas, as brigas, os momentos bons que ainda faziam falta. Será que eu deveria ter mudado? Será que dava para ter sido mais do que o cara da oficina, o apaixonado por uma saveiro? Eu olhava para a "Salva" e pela primeira vez em muito tempo, não sentia a mesma conexão. De repente, ela parecia ser parte do problema, como se o fato de eu amá-la tivesse me impedido de amar Antonela do jeito que ela precisava.

A frustração e a dor me deixavam sem rumo. Passei noites em claro pensando em tudo que poderíamos ter sido, no que poderíamos ter construído juntos. Mas, no fundo, eu sabia que não adiantava. Alguns relacionamentos simplesmente não estão destinados a funcionar, e esse era o nosso caso. Mesmo sabendo disso, o peso da perda ainda era esmagador.

Meus amigos foram minha âncora durante esse tempo. Cada um, do seu jeito, tentou me puxar de volta para a realidade. Gabriel, sempre o mais tranquilo, me lembrava que essas coisas acontecem, que a vida segue. "Cara, é como consertar um carro. Às vezes, não dá pra salvar o motor, e você tem que seguir em frente com o que sobrou." Eu sabia que ele tinha razão, mas na hora, nada parecia consertar o que estava quebrado dentro de mim.

Brendon, por outro lado, tentou me tirar da fossa com seu jeito irreverente. "Vamos dar umas voltas de carro, Gustavo! A melhor cura para um coração partido é a estrada." Ele sempre dizia isso, como se a velocidade pudesse apagar qualquer tristeza. E talvez tivesse algum sentido nisso. Teve um dia que saímos todos para uma corrida improvisada, com o Brendon rindo ao meu lado enquanto o vento batia no rosto. Não era uma cura, mas por alguns minutos, eu consegui esquecer.

Henrique, o mais meticuloso de nós, foi direto ao ponto. Ele sempre via as coisas de forma lógica. "Você fez o que pôde, cara. Não adianta tentar se culpar por tudo. Relacionamentos são como um projeto: se as peças não se encaixam, não adianta forçar." Ele falava com a calma de quem já tinha passado por isso antes. E, de fato, Henrique tinha suas próprias cicatrizes. Ele era reservado, mas numa dessas noites mais silenciosas na oficina, ele me contou sobre um amor que ele perdeu. "Ela queria uma vida diferente, e eu queria ficar aqui, perto da minha família, da oficina. No fim, a escolha foi feita por nós."

E então, tinha o Ney. Sempre fazendo piada de tudo, ele conseguia arrancar risadas mesmo quando o clima era pesado. "Gustavo, vai por mim: a próxima namorada vai ser alguém que adora o cheiro de graxa. Só falta ela cair do céu com um macacão sujo de óleo." Eu ria, mesmo que com dor no peito, porque o jeito do Ney de lidar com as coisas era encontrar humor onde menos se esperava. Ele também tinha suas histórias de amor fracassado, mas preferia não se aprofundar. Para ele, a solução estava em não levar as coisas tão a sério.

A verdade é que, cada um deles, à sua maneira, tinha passado por situações parecidas. Todos nós já tínhamos perdido alguém importante, e cada um tinha encontrado uma forma de lidar com isso. Para eles, assim como para mim, os carros eram mais do que um trabalho. Eles eram uma fuga, um jeito de colocar a cabeça no lugar enquanto mexíamos nas peças. Aqui, a gente consertava máquinas e, aos poucos, tentava consertar nossos próprios corações.

Eu percebi que a oficina era onde eu me sentia mais seguro. Mexer nos carros me trazia uma paz que nada mais conseguia oferecer naquele momento. Às vezes, eu ficava até tarde, sozinho, ajustando a "Salva" e colocando meus pensamentos no lugar. Era como se, a cada parafuso apertado, eu estivesse resolvendo um pedaço da minha vida.

A dor do fim com Antonela não sumiu da noite para o dia. Ela continuou ali, em cada canto da oficina, nas lembranças que surgiam de repente. Mas, com o tempo, eu aprendi a conviver com ela. Aceitei que nem todas as histórias têm um final feliz, mas isso não significa que a jornada não valeu a pena.

E assim, dia após dia, comecei a juntar os pedaços. Meus amigos estavam comigo, a oficina continuava sendo meu refúgio, e a "Salva" ainda era minha companheira fiel. A estrada da vida, assim como a estrada de qualquer corrida, tem curvas inesperadas. E às vezes, tudo o que você pode fazer é segurar firme no volante e continuar dirigindo.

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