A manhã começou com Wellyton chegando cedo, carregando uma caixa de ferramentas e um sorriso animado.
— Pensei em te ajudar a verificar alguns cantos da casa. Se tem rangidos, batidas ou vazamentos, é melhor resolver logo — disse, entrando sem cerimônia.
— Eu não sei se é algo que se resolve com ferramentas… — murmurou Elisa, lembrando das mensagens da noite anterior.
Ele soltou uma risada curta.
— Você e suas paranoias. Vamos lá.
Passaram o resto da manhã andando de cômodo em cômodo. Nada além do esperado — paredes úmidas, madeira velha. Até que, na cozinha, Wellyton parou no meio do piso e bateu levemente com o pé.
— Ouviu isso? — perguntou, inclinando-se para ouvir melhor.
Elisa se aproximou. O som era diferente, mais oco, como se algo estivesse sob o chão.
— Deve ser só um espaço vazio… — ela disse, sem muita convicção.
— Não parece ser o mesmo tipo de piso do resto da casa. Aqui foi mexido. — Ele se agachou e passou a mão pelo rejunte. — Pode ter algo embaixo.
Elisa sentiu um arrepio subir pela nuca.
— Prefiro não saber. Não quero que mexa nisso agora.
Wellyton ergueu as mãos, rendido.
— Tudo bem. Mas, se quiser, é só falar.
O dia seguiu, mas a ideia de haver algo escondido ali não saía da cabeça dela. À noite, depois de se deitar, um som suave a despertou. No início, parecia apenas o vento atravessando frestas, mas logo percebeu que era diferente: um choro. Baixo, abafado, vindo exatamente da direção da cozinha.
Ela ficou imóvel, os ouvidos atentos. O choro cessou de repente, e o silêncio que veio depois foi ainda pior. Quando teve coragem de levantar e acender as luzes, não encontrou nada fora do lugar. Ainda assim, sentia no ar um cheiro leve de mofo, como se algo antigo tivesse sido perturbado.
No dia seguinte, a curiosidade falou mais alto. Elisa foi até a pequena biblioteca municipal e pediu acesso a arquivos antigos. Passou horas folheando jornais amarelados, até que um nome chamou sua atenção: Bruno.
A matéria, datada de 1994, dizia: "Adolescente desaparece sem deixar pistas. Moradores relatam ter visto o jovem pela última vez na rua da antiga casa da família Mendonça." Elisa reconheceu o endereço — era o da sua casa.
Continuou lendo. O texto explicava que o caso nunca havia sido solucionado e que a polícia não encontrou o corpo. Ao lado, uma foto em preto e branco mostrava um garoto de olhar triste, camisa clara e cabelo bagunçado.
Quando voltou para casa, já no fim da tarde, o celular vibrou.
"Gostou do que leu sobre mim?"
O sangue gelou. Ela não havia comentado nada com ninguém. Digitou, hesitante:
"Você é o Bruno?"
A resposta veio quase instantânea:
"Estou esperando você me encontrar."
Elisa deixou o celular cair no sofá. Pela primeira vez, sentiu que não estava apenas recebendo mensagens… estava sendo observada.
