Era sábado de manhã quando o portão da casa de Rodrigo se abriu para receber a primeira família interessada. Uma senhora chamada Dona Sílvia, acompanhada da neta Isabela, se encantou imediatamente pelo filhote marrom de orelhas enormes.
— Ele é perfeito para nós — disse Isabela, enquanto o cãozinho lambia suas mãos.
Rodrigo sorriu, mas sentiu um nó na garganta.
— Ele gosta muito de brincar. E… adora dormir enrolado num cobertor — comentou, tentando disfarçar a voz embargada.
Ao ver o carro se afastar com o filhote no colo de Isabela, Rodrigo ficou parado por alguns segundos, olhando para o portão fechado. Foi Lucas quem o tirou do transe.
— Ei, isso é bom, cara. Ele vai ser feliz.
Nos dias seguintes, outras despedidas vieram. A cadela branca mancando encontrou um lar com Seu Ernesto, um senhor que já tinha um cão idoso e queria dar companhia a ele. O vira-lata preto foi adotado por um casal jovem que adorava correr no parque.
Cada vez que um animal partia, Rodrigo sentia uma mistura de orgulho e saudade. Passava a noite olhando as fotos que tirou deles, lembrando dos primeiros dias após o incêndio, quando ainda estavam sujos de fumaça e com medo.
Uma tarde, sentado no quintal ao lado de Camila, a voluntária do resgate, ele confessou:
— Eu achei que ia querer ficar com todos…, mas agora vejo que o mais importante é eles terem uma casa de verdade.
Camila sorriu.
— É isso, Rodrigo. Cada lar novo é uma vitória contra o abandono. E você está vencendo várias.
Ele respirou fundo, sentindo que, apesar do vazio que ficava, havia também um orgulho silencioso em saber que estava cumprindo o seu papel.
