CAPÍTULO 4: Como era viver nos anos 90

 Viver nos anos 90 era sentir na pele o começo de uma nova era, marcada por transformações tecnológicas, mistura de culturas e uma avalanche de referências que moldariam o novo milênio. Foi uma década de transição — do analógico para o digital, das cartas para os e-mails, das locadoras de vídeo para o download lento via internet discada. Tudo mudava rapidamente, mas com aquele charme meio desajeitado e nostálgico que hoje causa saudade.

A moda nos anos 90 era um verdadeiro mosaico de influências. De um lado, o grunge do Nirvana ditava o visual despojado com camisas xadrez, jeans rasgados e all stars surrados. De outro, o estilo "patricinha" se destacava com calças de cintura alta, tamancos e muito brilho labial. Os bonés virados para trás, os tênis grandões e os moletons estampados completavam o figurino da juventude, que oscilava entre o rebelde e o pop. Era a década em que Spice Girls e Backstreet Boys conviviam pacificamente com Raimundos e Planet Hemp nas playlists feitas com muito esforço em fitas cassete ou nos primeiros CDs.

A alimentação refletia o ritmo mais acelerado do cotidiano. Redes de fast food se expandiram, os refrigerantes se tornaram protagonistas nas mesas, e os produtos industrializados, com embalagens coloridas e brindes colecionáveis, passaram a fazer parte do desejo das crianças. Os comerciais de televisão tinham enorme impacto: influenciavam o que se comia, o que se vestia e até o que se sonhava. Ainda assim, o almoço com arroz, feijão e bife continuava firme como base da cozinha brasileira, equilibrando o novo com o tradicional.

Os adolescentes da época foram os primeiros a experimentar a sensação de estar conectados — ainda que pela linha do telefone fixo, escutando o barulho do modem. A internet era uma novidade fascinante, que exigia paciência e limitava o uso da linha da casa. Malhação estreava com histórias jovens e um tom mais realista, enquanto bandas de pagode, axé e os primeiros fenômenos do pop dominavam rádios e festas escolares. As revistas de cultura jovem, como Capricho e Atrevida, eram fonte de conselhos amorosos, testes e pôsteres disputadíssimos.

Os adultos, por sua vez, aprendiam a lidar com o computador pessoal, a se adaptar a novos padrões de trabalho e a acompanhar a velocidade das mudanças sem perder o fio da meada. O cinema vivia um momento de ouro: Titanic virou obsessão global, Matrix introduziu uma estética visual revolucionária, e os filmes da Disney, como O Rei Leão e Aladdin, encantavam todas as idades. No Brasil, Central do Brasil levava o país ao Oscar e o cinema nacional voltava a se fortalecer.

Na televisão, a mistura era tão rica quanto o período. Crianças cresciam com Castelo Rá-Tim-Bum, TV Colosso e Chiquititas, enquanto os adultos se divertiam com o humor de Sai de Baixo, acompanhavam as tramas dramáticas de A Próxima Vítima e viam o noticiário relatar a abertura econômica do país, o impeachment de Collor e o surgimento do Real. O controle remoto virava símbolo de poder doméstico e zapeava entre canais que já começavam a se especializar em públicos e gêneros.

A década de 90 foi a última em que o mundo parecia grande — antes de ser encolhido pela internet banda larga e pelos smartphones. Foi um tempo de descobertas feitas com calma, de encontros marcados com antecedência, de amizades seladas na escola e de tardes inteiras esperando a música preferida tocar no rádio para poder gravar. Uma década que parece recente, mas já virou história. E que história boa de lembrar.