A mancha escura e úmida tornou-se o epicentro do terror. Maria Joana passou a monitorá-la obsessivamente, e não demorou para perceber o padrão: a mancha só reaparecia com toda a intensidade quando as mensagens de Elisa eram mais urgentes e desesperadoras. Havia uma conexão inegável entre o desespero do espírito e a manifestação física no piso.
— Não é um vazamento, Miguel. É um sinal — ela disse para o marido, que estava sentado no sofá, as mãos cobrindo o rosto em exaustão. — Elisa não está no porão. Eu acho que o porão está aqui. Escondido, vedado, bem debaixo dessa mancha.
Miguel não respondeu, mas a aceitação em seu silêncio era mais assustadora do que qualquer argumento.
Naquela noite, o casal estava quase dormindo quando um som sutil e lancinante os despertou: um choro fraco, vindo de algum lugar muito próximo. Era um som de dor contida, de desespero abafado, e parecia vir do chão, exatamente debaixo da mancha na sala de estar.
Miguel pulou da cama. O medo havia finalmente quebrado seu ceticismo. Ele foi até a sala, acendendo a luz, mas o choro só aumentou.
— Você está ouvindo isso? — ele sussurrou, a voz rouca.
Maria Joana assentiu, paralisada. De repente, a luz da sala piscou uma última vez e apagou-se de vez, mergulhando o cômodo na escuridão. O silêncio voltou por um breve e aterrorizante instante.
Então, eles ouviram um arrastar pesado vindo de baixo.
Miguel cambaleou para trás, apontando para a parede vazia.
— Ela está bem debaixo dos seus pés! Ele a escondeu lá! — gritou Miguel, apavorado, ao ver a sombra distorcida de uma mão surgir e rapidamente desaparecer na parede, como se lutasse para subir.
Maria Joana, estranhamente, não fugiu. Guiada pela voz e pelo desespero que sentia emanar do assoalho, ela se ajoelhou e tocou o chão sobre a mancha. Imediatamente, sentiu uma vibração fria e oca nas tábuas. Não era o som de uma casa antiga; era oco, como se não houvesse nada, apenas ar, logo abaixo da fina camada de madeira.
Sem hesitar, ela removeu o tapete e inspecionou as tábuas de perto. A área onde a mancha costumava aparecer estava levemente desalinhada, como um painel mal encaixado. Ela pegou a faca de cozinha que estava na mesa e enfiou a ponta na fresta.
— Me ajuda, Miguel! Rápido!
A resistência era imensa. O painel estava selado, talvez pela umidade, ou talvez propositalmente. Miguel, superando o pânico com uma onda de adrenalina, segurou o cabo da faca com ela e juntos, com um esforço tremendo e o ranger da madeira velha protestando, eles conseguiram forçar o painel para o lado.
Um vazio escuro se abriu no piso da sala de estar. Eles haviam encontrado a entrada. O porão estava ali o tempo todo.
