A verdade é que Gabriel e João Pedro estavam cada vez mais próximos. Era comum se encontrarem no parque, depois das aulas, para conversar sobre a vida. Sentados na grama, eles dividiam confidências que Gabriel nunca havia dito a ninguém.
— Às vezes sinto que vivo mais pros outros do que pra mim mesmo — confessou Gabriel, olhando para o céu. — Com a Raíssa, eu sempre tô devendo alguma coisa. Já com você... não sei, é diferente. Ela quer que eu seja um objeto dela, ela quer mandar, decidir que eu preciso estar sempre ali na mão dela. É chato isso, me faz mal!
João Pedro riu de leve, balançando a cabeça.
— Cara, comigo você só precisa ser você. Eu não espero nada além disso.
Gabriel sorriu, sentindo um alívio que não encontrava no namoro.
No entanto, Raíssa não estava disposta a ignorar a situação. No outro dia, encontrou Gabriel saindo da escola e o puxou pelo braço.
— A gente precisa conversar. Agora.
Eles se sentaram em um banco próximo, e Raíssa foi direta:
— Ou você começa a se dedicar de verdade a esse namoro, ou acaba de uma vez. Não dá mais pra viver nesse meio-termo.
Gabriel tentou argumentar, mas ela não deixou.
— Parece que você já me trocou por ele — reclamou, os olhos cheios de mágoa.
— Não é assim, Raíssa... — disse Gabriel, hesitando.
— Então me prova. Escolhe. Eu ou o João Pedro.
O silêncio dele foi a resposta que mais doeu. Raíssa se levantou, enxugando discretamente uma lágrima, e saiu antes que ele dissesse qualquer coisa. Gabriel ficou ali, parado, sentindo o peso da escolha que inevitavelmente teria que assumir.
Enquanto Gabriel vivia esse turbilhão de sentimentos, Renan passava por consultas e exames no hospital. Cada agulha, cada teste, era acompanhado de uma única certeza: faria qualquer coisa para salvar Kaio.
Não demorou, e o médico finalmente lhe deu a notícia.
— Você é compatível. Pode doar.
Renan fechou os olhos por um instante, segurando a emoção.
— Então vamos marcar a cirurgia logo. Não quero perder tempo.
No dia da operação, a sala de espera estava cheia. Amigos, familiares e vizinhos se reuniram para apoiar. Gabriel e João Pedro também foram ao hospital, oferecendo força a Renan.
— Você é corajoso demais, cara — disse João Pedro, apertando o ombro dele.
Renan sorriu, nervoso.
— Não é coragem... é amizade. Ele é meu irmão, eu não podia fazer diferente.
Gabriel, observando tudo, refletia sobre as escolhas da vida. Vendo Renan pronto para abrir mão de parte de si mesmo pelo amigo, entendeu que amizade verdadeira era feita de entrega e confiança — algo que ele já começava a sentir com João Pedro, mas que ainda tinha medo de assumir.
A cirurgia foi marcada para o dia seguinte. Entre apreensão e esperança, todos aguardavam, sabendo que aquele gesto mudaria não só a vida de Kaio, mas também o significado de amizade para todos ali presentes.