O dia estava cinza quando Elisa ouviu batidas fortes na porta. Ao abrir, encontrou Aylon parado na entrada, usando aquele mesmo sorriso educado que ela já conhecia bem, o tipo de sorriso que nunca vinha sem um interesse escondido.
— Fiquei sabendo que você anda… assustada — disse ele, entrando antes mesmo de ser convidado. — Achei que poderia ajudar. Você sabe que sempre pode contar comigo!
— Eu não pedi sua ajuda, Aylon — respondeu, cruzando os braços. — E não sei como ficou sabendo disso.
Ele deu de ombros.
— Seu irmão me ligou. Disse que a casa tem uns barulhos estranhos. E, olha, você sempre foi impressionável.
Antes que Elisa respondesse, Wellyton apareceu da cozinha.
— Já que você veio, pode pelo menos ajudar a verificar aquele ponto do piso. Estou com isso na cabeça desde que vi.
Aylon arqueou as sobrancelhas, interessado.
— Piso?
Em poucos minutos, os dois já estavam agachados, analisando o canto suspeito da cozinha. Wellyton usava uma espátula para raspar o rejunte enquanto Aylon ajudava a levantar a madeira. Um rangido grave ecoou quando a peça se soltou, revelando uma tampa de madeira escura, coberta por pó e teias de aranha.
— Aqui está — disse Wellyton, limpando a superfície. — Um alçapão.
Ao abrir, um cheiro denso de mofo e umidade escapou, fazendo Elisa recuar um passo.
— Isso deve estar fechado há décadas — comentou Aylon, com um tom quase divertido. — Quem quer ser o primeiro?
Elisa pegou a lanterna.
— Eu. Quero ver o que tem aí embaixo.
Desceu devagar, sentindo o ar ficar cada vez mais frio. As paredes de concreto estavam cobertas de manchas escuras, e a luz fraca da lanterna revelou algo que fez seu estômago revirar: marcas profundas de unhas, como se alguém tivesse tentado escavar a parede com as próprias mãos.
Foi então que o celular vibrou no bolso. Tremendo, Elisa o tirou e leu a mensagem:
"Você está perto."
O coração disparou. A lanterna piscou uma, duas vezes… e apagou. No breu, o silêncio era tão pesado que ela podia ouvir sua própria respiração acelerada. De repente, sentiu algo tocar seu ombro. Uma mão fria, firme.
— Wellyton? — chamou, com a voz trêmula.
Nenhuma resposta. Virou-se rapidamente, mas não viu nada — apenas escuridão.
Um estrondo metálico ecoou acima dela. O alçapão havia se fechado. Elisa correu até a escada e empurrou a tampa, mas ela não cedia.
— Ei! Abre isso! — gritou, batendo com força.
Do outro lado, apenas silêncio… até que um sussurro fraco, quase como um sopro, chegou ao seu ouvido:
— Você me encontrou.
Elisa recuou para o centro do porão, abraçando a lanterna apagada como se ela fosse alguma proteção. O ar parecia mais denso, e algo no escuro respirava com ela.
