Luciano conseguiu se desvencilhar do turbilhão da festa. O corredor que ele seguiu era de mármore frio, um contraste bem-vindo à efervescência quente do salão. Ele abriu a primeira porta que parecia ser um banheiro, e parou, absorvido pela visão. Não era um lavabo; era uma sala de banho que parecia um templo minimalista: espelhos do chão ao teto, metais escovados e, no centro, uma ducha de box de vidro que prometia o paraíso.
O que mais chamou sua atenção, no entanto, foi a promessa de água quente em abundância. Em sua casa humilde, o banho era uma tarefa rápida, com um chuveiro elétrico que mal dava conta do recado, frequentemente com medo de queimar o circuito. Ali, ele viu os elegantes controles de um aquecedor a gás, um luxo que representava todo o abismo entre sua vida e a de Arthur.
Ele se despiu rapidamente, sentindo o peso e o cheiro de suor, fumaça e perfume caro em suas roupas. Entrou no box e ligou a água. O jato que caiu sobre ele não era apenas quente; era perfeito. Forte, constante e ininterrupto. O vapor começou a preencher o ambiente, embaçando os espelhos e criando uma névoa suave que o isolou do restante do mundo.
— Isso... isso é liberdade — sussurrou Luciano para si mesmo.
O calor penetrava sua pele, relaxando os músculos tensos pela adrenalina e pelo susto. A água lavava mais do que as sujeiras físicas; lavava a timidez, o medo e, por um instante, a culpa das últimas horas. Ele esfregou o corpo com sabonetes líquidos perfumados, sentindo-se purificado e, pela primeira vez desde que chegou à Curitiba, verdadeiramente livre. Naquele vapor, sem a avaliação de ninguém, ele era apenas ele mesmo.
Foi nesse instante de quietude que a porta se abriu levemente.
— Eu sabia que te encontraria aqui.
Era Gabriel. Ele encostou-se à moldura da porta, observando Luciano com um sorriso tranquilo.
— Está se escondendo da gente, Lu?
Luciano não se encolheu. A liberdade do banho o havia deixado com uma nova confiança.
— Não estou me escondendo. Estou apenas... respirando. É a primeira vez que tomo um banho assim na vida.
Gabriel caminhou lentamente, parando perto do box. Ele parecia ter acabado de sair de uma revista, a roupa impecável contrastando com o caos da festa.
— Você está diferente. A água te fez bem.
— Me fez sentir... que eu posso ter isso — disse Luciano, a voz cheia de convicção. — Que a vida é maior do que o que eu conhecia.
— E é. Mas o luxo é caro. Nem tudo é grátis, Luciano — Gabriel disse, a voz agora carregada de um tom mais sério. Ele olhava diretamente nos olhos de Luciano, sem desviar o olhar. — Você não está aqui por acaso. Arthur te achou bonito e interessante.
— E o que isso significa? — Luciano perguntou, sentindo a adrenalina subir novamente.
Gabriel deu um passo à frente, encostando a mão no vidro embaçado.
— Significa que você tem que pegar o que você quer. E ir embora antes que seja tarde demais. Eu já vi esse filme.
Havia uma melancolia súbita na expressão de Gabriel, um vislumbre de algo além do hedonismo. Ele não parecia mais o predador da festa, mas um cúmplice em um plano de fuga.
— Você é uma tela em branco, Luciano. Eles gostam disso. Mas não deixe que eles te pintem de cores que não são suas.
O alarme na cabeça de Luciano tocou, um aviso frio no meio do calor. Ele desligou o chuveiro e abriu a porta do box, encarando Gabriel, molhado, mas agora lúcido.
— Eu não sou tela de ninguém.
Gabriel sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Ele retirou a mão do vidro.
— Bom. Então se vista. A festa está acabando, e Arthur odeia despedidas demoradas. Você tem sua liberdade. Agora, pegue sua recompensa e vá.
Luciano secou-se rapidamente com uma toalha fofa e macia. O tempo de quietude havia passado, e ele precisava encarar o anfitrião uma última vez. Vestiu suas roupas amassadas, sentindo o choque de seu tecido simples contra a pele que acabara de experimentar o luxo.
